23.3.07

Grandes bancos associam-se ao microcrédito

Paula Cordeiro, in Diário de Notícias

Os bancos portugueses despertaram recentemente para o microcrédito. Existente em Portugal desde 1999, através da Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC), foi nos últimos três anos que a banca apostou de forma mais sistemática neste produto, que ajuda pessoas de reduzidos recursos a contraírem um crédito destinado ao desenvolvimento de uma actividade económica.

De acordo com os dados da ANDC referentes a 2005, já foram concedidos 640 empréstimos, que resultaram num total de crédito concedido de 2,7 milhões de euros. Desde 1999, o número de postos de trabalho criados ascende a 745 empregos. O fundo de garantia do microcrédito, gerido pela ANDC, ascendia, em 2005, a 115 mil euros.

Trata-se de créditos concedidos através de acordos com os diversos bancos, que ao longo dos últimos tempos se foram associando à ANDC e, ao mesmo tempo, desenvolvendo o seu negócio de microcrédito. Os montantes atribuídos através de acordos com esta associação apresentam um valor médio que se situa entre os mil e os cinco mil euros, enquanto que na Europa estes valores variam entre os 500 e os 10 mil euros.

O primeiro banco a associar-se a esta forma de financiamento, em parceria com a ANDC foi o Millennium bcp. O banco já evoluiu o seu conceito e há pouco mais de um ano tem uma rede autónoma para estes negócios (ver caixa).

Já em finais de 2005, a associação assina um protocolo com a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e com o Montepio Geral. Em 2006, é a vez de o Banco Espírito Santo (BES) aderir à iniciativa. Cada banco gere o seu negócio autonomamente, analisando os projectos que lhe chegam de particulares, que querem criar o seu próprio negócio, através de uma microempresa. Outros negócios vão sendo canalizados para a banca através da ANDC.

Ao longo destes últimos anos, associação e bancos têm-se envolvido em várias iniciativas, no sentido de divulgar e levar até junto das pessoas esta modalidade de financiamento, ainda desconhecida por muitos. Há cerca de dois anos, decorreu em Lisboa a Semana do Microcrédito, que serviu para mostrar que o sistema financeiro também pode ser inclusivo, ou seja, aberto a todos os cidadãos. E esta informação é importante. Segundo dados da ANDC, muitos dos pedidos de microcrédito não se enquadram nesta definição, com muitos particulares a procurar microcrédito para um crédito ao consumo. Assim, só 20% dos contactos resultam em pedidos efectivos de microcrédito. Destes, são concretizados em empréstimos 90% dos contactos.

Este tipo de financiamento destina-se a financiar negócios de cariz mais pessoal, como microempresas que podem ter apenas um ou dois trabalhadores, destacando-se do conceito normal de microempresa, que tem normalmente até dez empregados.