26.3.07

Merkel recordou que nunca pensou viver um dia assim

Teresa de Sousa, in Jornal Público

Foi com uma defesa apaixonada da Europa que Angela Merkel encerrou ontem, no Museu de História Alemão, a belíssima cerimónia que culminou as celebrações dos 50 anos do Tratado de Roma. Não foram tanto as palavras que encontrou para celebrar a história extraordinária do projecto europeu - foi a convicção que colocou em cada uma delas, num paralelismo entre a sua própria vida e a da Europa. A chanceler que nasceu na parte leste da cidade, que tinha 3 anos quando o Tratado de Roma foi assinado e sete quando o Muro de Berlim foi erguido, separando a sua família e oferecendo-lhe como único horizonte uma rua sem saída, lembrou aos líderes europeus a grande lição dos pais fundadores: transformar uma derrota numa oportunidade. E apresentou-lhes um programa completo para o futuro, mas muito simples: sozinho, cada um dos países da UE só dificilmente resolverá os desafios que tem pela frente. Da globalização à defesa do "modo de vida europeu", da paz à prosperidade, do sonho de moldar o mundo com a liberdade "que dá força aos indivíduos" e a tolerância que permite uni-los na diversidade.

Foi com graça que combateu os pessimistas e os cépticos, recordando o diplomata britânico que, em plenas negociações do Tratado de Roma, disse "não haver qualquer chance de alguma coisa vir a ser assinada, e, se viesse, nuca seria ratificada, e, se o fosse, nunca seria aplicada". Blair compreendeu a mensagem. E Merkel evocou também as palavras de um estadista francês sobre os tratados: "que são como as jovens raparigas e as rosas: duram o que duram". "Tudo isto é Europa", disse a chanceler, "o cepticismo, as contradições, a diversidade e também os múltiplos clichés a que nos agarramos." Mas é sobretudo "coragem".

Durão Barroso começou o seu discurso lembrando o que a Europa deve ao empenho e à solidariedade da Alemanha, até para defender a importância dos alargamentos num mundo "em que a dimensão conta". Citou Schuman para dizer que "já não é o momento para as palavras vãs, mas para actos construtivos" e lembrou aos líderes europeus que não devem olhar para a União "como uma potência estrangeira". Devem antes ter a vontade política de abrir, não de fechar, de serem corajosos e não timoratos, devam dar à Europa a capacidade de agir, com instituições que a equipem para a globalização.

Não houve a menor dessintonia entre os quatro oradores - além de Merkel e de Barroso, Prodi, primeiro-ministro do país onde foi assinado o Tratado de Roma, e Hans Gert Pottering, presidente do PE. Todos convergiram na visão de uma Europa unida, institucionalmente forte e democrática, capaz de agir externamente. Quando soaram os acordes da Ode à Alegria, os 27 chefes de Estado e de governo ergueram-se sem um gesto ou um suspiro. Preparar a Europa para os próximos 50 anos "é o teste que enfrenta uma geração de líderes apenas uma vez na vida", disse Barroso. E não nos seprara "do mais negro período de ódio e de destruição da história da Europa a duração de uma vida", disse Merkel. Pelo que ninguém se engane, o mundo não esperará pela Europa o tempo todo. Durão Barroso citou Schuman: "Já não é o momento para as palavras vãs, mas para actos construtivos".