30.3.07

Sopa quente para os desprotegidos

Alexandra Lopes, in Jornal de Notícias

"Só não vem cá quem não quer. É tão boa a sopa que nos dão, só temos é de agradecer". Manuel, frequentador assíduo da cantina social "A tua casa, sopa quente", da Associação Dar as Mãos", não poupa elogios à alimentação.

Todos os dias, Manuel, 58 anos, vai jantar à associação, mas aproveita também para pôr a conversa em dia com as voluntárias que ajudam da instituição. "Venho cá porque as minhas condições são más", diz, explicando que vive sozinho.

A cantina social nasceu com o intuito de ajudar as pessoas sem alternativas. A estrutura situa-se em pleno centro da cidade, na Avenida do General Humberto Delgado e a ela acorrem pessoas essencialmente com problemas de toxicodependência e alcoolismo. De acordo com a responsável pela instituição, Lídia Guimarães, diariamente acorrem à cantina entre 15 e 20 pessoas. Abre das 18.30 às 19.30 horas, todos os dias, excepto ao domingo.

"Há vários factores que fazem variar o número de utentes, como acontece nos dias de feira, se houver alguma rusga ou se estão em tratamento", adianta. Quando a cantina abriu, todos se juntaram, mas, segundo conta a responsável, alguns alcoólicos são agora mais reticentes a acorrer ali porque não querem "misturar-se" com toxicodependentes.

Sopa, uma peça de fruta e pão é a refeição que têm oportunidade de tomar,ou até de levar para casa. Às vezes, há quem ofereça iogurtes ou sobremesas.

"Venho aqui quando não vou a casa", refere, timidamente, Marlene, 23 anos, toxicodependente,que não sendo do concelho de Famalicão é por lá que "vai parando". Marlene come, agradece e sai. Mas nem todos são assim. "Eles falam abertamente dos seus problemas, contam histórias da sua vida", garante Lídia Guimarães. "Muitas vezes até pedem ajuda", diz.

À cantina vão também alguns estrangeiros, desempregados e sem-abrigo. E a Associação "Dar as Mãos" vai abrir, em breve, um espaço onde as pessoas possam tomar banho.