24.4.07

Alcoolismo na maior parte dos casos de violência

Eduardo Pinto, in Jornal de Notícias

Carrazeda de Ansiães, Vinhais, Bragança e Mirandela são apontados pela Segurança Social de Bragança como os concelhos com mais casos detectados pelas comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ). Alcoolismo, violência doméstica, insucesso escolar são as situações que mais queixas têm levantado. Dados conhecidos, a semana passada, durante a tomada de posse das comissões de Vila Flor e Miranda do Douro, únicos concelhos do distrito que ainda não dispunham daquelas entidades.

Carrazeda de Ansiães aparece no topo das preocupações, não por ter uma comunidade de etnia cigana com vários problemas, mas por ser um concelho de forte produção vitícola. O consumo de bebidas alcoólicas, sobretudo por parte de pais, conduz a situações de violência física ou psicológica sobre menores.

Refira-se que, em quase cinco anos de actividade, a CPCJ local leva já identificados e em vias de resolução uma boa meia centena de casos. "Os problemas de alcoolismo têm uma boa dimensão", confirma Teresa Barreira, directora do Centro Distrital de Segurança Social de Bragança.

Fora da estatística

No resto do distrito também são conhecidos casos ligados ao consumo excessivo de álcool. Nas maiores cidades, como Bragança e Mirandela, a quantidade de casos de violência sobre menores aumenta proporcionalmente ao número de habitantes. Vila Flor e Miranda do Douro não contam ainda para a estatística, embora Teresa Barreira assegure que os técnicos locais de assistência social tenham estado atentos a eventuais situações.

O presidente da Câmara Municipal de Vila Flor, Artur Pimentel, aponta como prioridade no seu concelho o "combate ao insucesso e abandono escolar", depositando fortes esperanças no trabalho que a CPCJ agora criada vai elaborar. "Temos de agarrar esses problemas para termos uma sociedade melhor", disse. O autarca de Miranda do Douro, Manuel Rodrigo, admite que "há alguns casos que já estão a ser tratados", mas globalmente "não há grandes problemas no concelho". Daí que opine que a CPCJ agora formalizada deva concentrar esforços na "prevenção".

Teresa Barreira chama a atenção para que a comunidade se envolva na denúncia de casos de qualquer tipo de violência sobre menores, ou mesmo em casos de violência conjugal.

A responsável entende que a população tem de deixar de lado máximas como "entre marido e mulher não metas a colher" ou "a mesma mão que dá o pão dá educação", identificando e denunciando situações graves. "Que tenham a coragem de sentir que não se estão a intrometer, mas que estão a proteger uma criança ou jovem indefeso", desafia.

Cultura da infância

O presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, Armando Leandro, adianta que é "indispensável" que a sociedade cultive a cultura da infância, como "um sujeito com direitos". Adianta que há que lutar por "privilegiar a família, uma parentalidade positiva, e para que se aja quando a família não pode ou não quer assumir a sua função".No dia em que toda a região de Trás-os-Montes e Alto Douro ficou abrangida por CPCJ, o responsável adiantou que estão a ser dados passos para a cobertura total do território. De 308 concelhos, falta instalar comissões em 33 municípios, sendo que as grandes cidades do país têm mais que uma. A prevenção primária é o principal objectivo deste tipo de comissões, reunindo várias entidades e organismos concelhios.