19.4.07

Autarquia afinal deixa os furgões ficarem no Bacelo

Álvaro Vieira, in Jornal Público

Matilde Alves anunciou ontem ter pedido a transferência de uma idosa, que acaba de sair do hospital com um pé amputado, para uma pensão sem as barreiras arquitectónicas que a obrigaram a passar uma noite junto aos furgões. Admitiu que a senhora em questão seja a primeira a receber casa. Entre a comunidade, lamenta-se que a Segurança Social não tenha arranjado o transporte escolar para as crianças e o local para lavar roupa prometidos.

a A vereadora da Habitação na Câmara do Porto, Matilde Alves, rejeita que a comunidade cigana do Bacelo tenha sido intimada a retirar os furgões que mantém a escassas dezenas de metros do terreno de onde a autarquia a despejou, a 27 de Março. Ressalvando não pretender alimentar polémicas, Matilde Alves declarou ao PÚBLICO que a Polícia Municipal se limitou anteontem a chamar a atenção das 16 famílias proprietárias dos veículos, que a Segurança Social instalou em pensões onde não podem permanecer durante o dia, para a necessidade de conservarem limpo o parque improvisado, onde confeccionam o jantar.

Elementos desta comunidade declararam ontem ao PÚBLICO que, na véspera, a Polícia Municipal lhes havia mesmo dito que, caso não retirasse os veículos dali, até às 14h de ontem, eles seriam mesmo rebocados.

Certo é que os veículos continuam no local e ontem, às 15h00, as famílias em questão subiram do Bacelo à Quinta da Bonjóia para participarem em mais uma sessão dos "encontros/formação" que a Câmara de Porto lhes estabeleceu como condição, a par da pernoita nas pensões até 60 dias, de acesso a habitação social.

Alguns membros desta comunidade declaram ao PÚBLICO não saber muito bem do que estavam a tratar nestas acções de formação. "Falam disto, falam daquilo e amanhã dizem a mesma coisa", resumiu uma mulher. Alguns, analfabetos, queixaram-se das "palavras caras" que não entendiam. Outros ainda protestaram contra os nomes de alguns módulos, que incluem palavras como "higiene" e "educação". "Não somos mal-educados, nem sujos", disse uma jovem.

Matilde Alves garante que a experiência está, pelo contrário, a correr bem. "O que acontece é que estas pessoas vinham com as cabeças formatadas por alguns jovens irresponsáveis da Plataforma 65 e da SOS Racismo", comentou a vereadora. Para a vereadora da Habitação, "discriminar estas famílias era deixá-las num terreno infra-estruturado, como pretendiam a SOS Racismo e a Plataforma 65, na diferença a vida toda". Matilde Alves assegura que as famílias estão "contentes com a formação", que visa prepará-los para a vida num apartamento. "Viveram 20 anos em campo aberto. A convizinhança é sempre difícil e é importante que os próprios vizinhos os recebam bem", argumenta.