17.4.07

Crescimento económico não garante igualdade

Manuel Esteves, in Diário de Notícias

Os países em desenvolvimento cresceram mais na última década do que nas duas anteriores. Segundo um relatório do Banco Mundial divulgado no Domingo, os países mais pobres registaram um crescimento económico médio anual superior a 5% entre 1995 e 2005, contra 4,5% na década anterior e pouco mais que 3% entre 1985 e 1995. Além disso, conseguiram manter um ritmo bastante superior ao dos países ricos, que, na última década, cresceram 2,5%.

O bom desempenho económico teve um papel determinante para a redução da pobreza extrema, que caiu 21% entre 1990 e 2004. São menos 260 milhões de pessoas a viverem com menos de um dólar por dia, em grande parte chineses. Mas a boa performance de países muito populosos, como a China, a Índia e o Brasil, contrasta com o que aconteceu nos países da África Sub-sahariana, onde a taxa de pobreza se mantém acima dos 40%. Os percursos desiguais das várias economias levantam "preocupações sobre desigualdades crescentes entre regiões", alerta o Banco Mundial (BM), lembrando que a resposta da pobreza ao crescimento económico depende da distribuição do rendimento (ou consumo)", o que, por sua vez, depende de muitos factores, tais como a saúde, a educação, a paridade entre géneros, a segurança, etc.

Mas não é só entre países que a desigualdade ameaça agravar-se. Também dentro de muitos países pobres, o fosso entre ricos e pobres é cada vez mais acentuado. Num grupo de 59 países muito pobres seleccionados pelo BM, em 44% a desigualdade agravou-se com o aumento da riqueza. Porém, como é evidente, a redução do PIB (Produto Interno Bruto) também não ajuda ninguém: isso aconteceu em 34% daqueles países onde a desigualdade também subiu. A combinação ideal - crescimento económico e redução do fosso entre ricos e pobres - só se verificou em 17% dos países e a combinação aparentemente improvável - menos riqueza e menos desigualdade - sucedeu em 5% dos casos.

Um dos indicadores mais utilizado para medir a desigualdade é o índice Gini, que varia entre zero (igualdade perfeita) e 100 (desigualdade máxima). A partir dos dados do Banco Mundial, constata-se que os países sub-saharianos e da América Latina são os mais mal colocados. Portugal é o 71.º mais desigual (ver texto ao lado), oito e 13 posições à frente da Itália e de Espanha, respectivamente. Porém, desigualdade não significa necessariamente pobreza: prova disso é o facto dos Estados Unidos ocuparem o 51.º lugar neste ranking.