18.4.07

Os números

Alexandra Campos, in Jornal Público

Prevenção da transmissão de mãe para filho é uma das prioridades. Tratamento apenas chega a 15 por cento das crianças doentes, apesar dos avanços em 2006

7,1 milhõesé o número de pessoas que, nos países mais pobres, necessitam rapidamente de terapêutica anti--retroviral

780.000
crianças carecem de tratamento. Destas, apenas 15 por cento têm acesso aos fármacos

11 por cento
das mulheres grávidas seropositivas são tratadas com os medicamentos que permitem prevenir a transmissão do vírus HIV para os filhos

a O acesso às terapêuticas contra a infecção por HIV aumentou significativamente (54 por cento) nos países mais pobres, de 2005 para 2006. Apesar deste avanço, pouco mais de um quarto dos 7,1 milhões de pessoas que se estima necessitarem deste tratamento para sobreviver estão a recebê-lo, conclui o relatório ontem divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Sida e a Unicef.

Os resultados - que constam do estudo Para um acesso universal: expandir as intervenções prioritárias ligadas ao HIV/Sida no sector da Saúde - são encorajadores. Mas, se o crescimento se mantiver a este ritmo, não será possível atingir a ambiciosa meta traçada pela OMS para 2010: "O acesso universal a programas abrangentes de prevenção, ao tratamento, cuidados e apoio" ao HIV.

Apesar de, em termos globais, a taxa de cobertura das terapêuticas anti-retrovirais nos países de baixos e médios rendimentos ter atingido os 28 por cento, a percentagem varia substancialmente de região para região, oscilando entre um mínimo de 6 por cento na África e no Médio Oriente e um máximo de 72 por cento na América Latina e nas Caraíbas. A evolução mais impressionante aconteceu na África subsariana, onde mais 1,3 milhões de pessoas (28 por cento dos que necessitavam da terapia) tinham, em Dezembro passado, acesso ao tratamento quando em 2003 esse valor se ficava pelos 2 por cento.

No quadro dos países pobres, o mais preocupante, porém, é a limitação na disponibilização dos tratamentos às grávidas seropositivas (apenas 11 por cento das mulheres que precisam de medicamentos anti--retrovirais para evitar a transmissão do HIV de mãe para filho têm acesso aos fármacos) e o facto de apenas 15 por cento das crianças carenciadas estarem a ser tratadas. "As crianças continuam a ser o rosto esquecido da pandemia da sida", lamentou, a propósito, a directora executiva da Unicef, Ann Veneman.

As prioridades passam, assim, pela melhoria do acesso às terapêuticas anti-HIV às grávidas e aos menores de 15 anos, em especial na África subsariana, refere o relatório, criticando o facto de apenas 90 países terem fornecido dados nas datas previstas. "Precisamos de programas nacionais ambiciosos, uma mobilização global muito maior e uma responsabilização acrescida se quisermos ser bem sucedidos", defendeu a directora-geral da OMS, Margaret Chan.

A OMS pretende ainda que a circuncisão masculina seja reconhecida como uma importante "intervenção adicional na prevenção" do HIV.

A descida acentuada (cerca de 20 por cento só em 2006) dos preços da maior parte das terapêuticas anti-retrovirais de primeira linha nos últimos anos, graças à concorrência entre os produtores de medicamentos genéricos, foi fulcral para o alargamento da taxa de cobertura. Mas ainda é insuficiente, considera o relatório. "A menos que os preços das terapias de segunda linha baixem significativamente, os constrangimentos orçamentais podem pôr em risco os programas de tratamento", alerta.