14.5.07

Alterações climáticas agravam migração forçada de mil milhões

Alfredo Maia*, in Jornal de Notícias

Pelo menos mil milhões de pessoas vão emigrar daqui até 2050, em consequência das alterações climáticas que vão agravar os conflitos e as catástrofes naturais, de grandes projectos e de conflitos internos e regionais, avisa a organização não governamental britânica de apoio aos refugiados Ajuda Cristã. Para se ter uma ideia do impacto demográfico e social do aviso, note-se que os cenários socioeconómicos concebidos pelos especialistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas prevêem que, em meados deste século, a população mundial atinja nove mil milhões.

No relatório, a Ajuda Cristã, criada para apoiar os refugiados da Segunda Grande Guerra, vinca "sem ambiguidades" o ritmo da aceleração das deslocações populacionais no século actual. "O número de pessoas que deixou as suas casas por causa de conflitos, de catástrofes naturais e de grandes projectos de desenvolvimento (minas, barragens, por exemplo) já aumentou espantosamente", declara, estimando tais deslocações em 163 milhões.

As alterações climáticas "vão fazê-las subir ainda mais", avisa, considerando que, ao ritmo actual, um milhar de milhões suplementar de pessoas será forçado a deixar as suas casas entre agora e 2050. As alterações climáticas vão exacerbar os actuais factores de migração forçada e acelerar a "crise migratória emergente". Estima-se que 50 milhões de pessoas vão migrar devido a conflitos e atentados aos direitos humanos; 645 milhões devido a grandes projectos (o ritmo actual é de 15 milhões por ano); e 250 milhões por causa das inundações, secas e fome, induzidos por alterações climáticas.

O relatório cita dados do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Evolução do Clima ainda não publicado para afirmar que, daqui a 2080, entre 1,1 e 3,2 mil milhões de pessoas serão atingidas por falta de água e que entre 200 milhões e 600 milhões vão sofrer fome. Em cada ano, entre dois e sete milhões serão afectados pelo aumento do nível médio do mar.

"A migração forçada é a ameaça mais premente contra as populações pobres os países em dias de desenvolvimento", afirmou um dos autores, David Davison. As enormes deslocações populacionais "vão alimentar conflitos existentes e gerar novos em regiões do mundo - as mais pobres - onde os recursos são mais raros", adverte a ONG, antevendo um mundo "com muitos outros Darfur" como o "cenário de pesadelo cada vez mais provável".

Preocupada com o facto de as deslocações internas não serem consideradas migrações pelo direito internacional, a Ajuda Cristã prevê que na Colômbia, no Mali e na Birmânia o fenómeno será mais preocupante, mas nota que muitas pessoas procurarão partir para a Europa.

*Com agências France Press e Reuters