15.5.07

Entre 10 a 15 por cento das pessoas com sida têm mais de 50 anos

Andrea Cunha Freitas, in Jornal Público

Os casos de HIV nos idosos aumentam. A sexualidade mudou e os especialistas referem a importância de campanhas de prevenção para os mais velhos


Quatro enfermeiros do mestrado em infecção HIV/sida realizaram, em 2005, um estudo preliminar que alertava para o aumento do número de casos nos idosos, concluindo que 12,4 por cento das pessoas notificadas em Portugal tinha mais de 50 anos. As conclusões despertaram a atenção dos profissionais de saúde que promoveram, em 2006, um levantamento feito a nível nacional e que será apresentado depois de amanhã no 2º Congresso Pandemias na Era da Globalização, em Aveiro. Os dados que serão apresentados num livro confirmam a tendência para o aumento da incidência da doença nesta faixa etária. Actualmente, as pessoas com mais de 50 anos são entre 10 a 15 por cento dos infectados com HIV/sida.

"A sexualidade mudou", começa por argumentar Meliço Silvestre, director do Departamento de Doença Infecciosas nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) e presidente do congresso. Segundo explica, os novos fármacos que possibilitaram o prolongamento ou a reactivação da vida sexual nos idosos sem que isso tenha implicado campanhas de sensibilização para questões como o uso do preservativo terão alterado significativamente o cenário da doença em Portugal (à semelhança do que acontece nos outros países). "Cada vez mais aparecem pessoas nas consultas com Sida, já com manifestações da doença, com 50, 60, 70 e até 80 anos. Isto significa que foram infectados cerca de dez anos antes, aproximadamente" revela o especialista, notando que, nesta época, as campanhas de prevenção eram especialmente dirigidas a grupos de risco como os toxicodependentes ou as prostitutas.

Sem querer "alarmar as pessoas", Meliço Silvestre nota que um dos principais problemas nestes casos é o facto de o diagnóstico ser muitas vezes tardio. O especialista admite, no entanto, alguma responsabilidade dos médicos que "muitas vezes não associam os sinais a esta doença" que surge mascarada com patologias próprias do processo de envelhecimento.

Saraiva da Cunha, director do Serviço de Doenças Infecciosas dos HUC, acrescenta: "O indivíduo idoso muitas vezes apresenta uma sintomatologia que pode ser confundida com o que chamamos de doenças da idade e que muitas vezes atrasa o diagnóstico fazendo com que estes doentes passem muito tempo de consulta em consulta." Apesar das discrepâncias dos dados fornecidos pelos vários centros nacionais, "os resultados todos somados apontam para uma percentagem entre os 10 e os 15 por cento de pessoas com mais de 50 anos" no número total das vítimas da sida em Portugal.
Defendendo que este grupo tem "andado um pouco ao desleixo", Saraiva da Cunha argumenta que é cada vez mais evidente a necessidade de "fazer uma campanha de prevenção dirigida apenas a este grupo".

Em relação à adesão terapêutica, Saraiva da Cunha considera que nesta faixa etária não surgem grandes problemas. "O mais complicado é que muitas vezes eles têm de somar esta medicação às outras todas que já tomam para doenças comuns nesta idade, como as diabetes, a hipertensão, o colesterol", nota.