30.5.07

"Fundos europeus são oportunidade de ouro"

in Jornal de Notícias

Desenvolvimento da região exige, segundo o reitor, que as empresas percam o medo de cooperar

Nos países desenvolvidos, os núcleos de investigação de empresas relacionam-se muito com as universidades. Na região, como são quase tudo pequenas e médias empresas (PME), não há essa capacidade. Como se resolve a questão, se a Universidade, como já disse, não tem dinheiro suficiente?

Uma das nossas preocupações é ver como podemos chegar às PME. Mas as empresas têm que se associar para fazer investigação. E cada uma, consoante o resultado que obtiver, vai depois usar a capacidade competitiva para ter sucesso. Cada uma por si nunca vai conseguir fazer investigação. Não somos nós que vamos juntar as empresas nem lhes dizer o que querem fazer. Elas é que sabem o negócio que pretendem e como o querem desenvolver. Podemos apoiá-las. Há exemplos concretos de grandes resultados de investigação entre universidades e grandes empresas. E as pequenas? Há que encontrar mecanismos para se juntarem.

A Universidade tem condições para inverter o empobrecimento da região?

Sozinhos não conseguimos. Quem cria directamente a riqueza são as empresas. Elas têm de perceber que devem evoluir. Esta pulverização de empresas que são incapazes de se juntar também tem de ser posta em causa. Estamos a fazer a nossa parte, mas têm de entender as limitações das universidades. As empresas têm de fazer a sua e as grandes olharem para as PME.

Tem defendido a criação de pólos de competitividade. Já participa no da saúde...

Somos um participante fundamental, mas há outros clusters em que o Norte devia apostar, como energia, mar e ambiente. E há outro pouco falado. Temos indústrias tradicionais que precisam de ser renovadas tecnologicamente. No calçado como no têxtil, temos um potencial interessante de renovação tecnológica. A área de novos produtos, o "manufacturing", seria um pólo interessante. Falamos de novos tecidos, de novos materiais.

Com empresas a fechar e o alto desemprego, como se diz às pessoas para renovar?

Tem a ver com a educação. Uma aposta fundamental da região é não deixar que as pessoas abandonem o ensino antes do 12º ano concluído. Quer na via de acesso à Universidade, quer na profissionalizante. Ficam com outras armas para, fechando uma empresa, poderem fazer algo diferente. Se tanta gente deixa a escola é porque não é feito um papel tão intenso, por parte das entidades, para que isso não aconteça.

O Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) é a última oportunidade para a região se desenvolver?

Não gosto de dizer que é a última. Pelo menos, é de ouro. Se se perder, serão precisos muito mais anos para recuperar.

Estímulo à boa gestão

Que reflexos tiveram os cortes orçamentais para as universidades?

Temos entidades com problemas graves de funcionamento. E os cortes surgem numa altura em que fazemos a adaptação a Bolonha e precisamos de mais meios. Têm o aspecto positivo de obrigar a uma gestão mais rigorosa. A Universidade do Porto está à vontade, porque tem sido a mais rigorosa no uso dos dinheiros. Nunca andámos de braço estendido, mas, na altura de distribuir verbas, somos tratados como os outros. O Governo não pode tratar de modo igual o que é diferente. Não há estímulo à boa gestão.