14.5.07

Imigrantes na agenda

José Mota, in Jornal de Notícias

Triagens hospitalares pela Europa podem sofrer mudanças. Medidas a discutir na presidência portuguesa


A presença de profissionais nas triagens dos serviços de saúde, de forma a facilitar o acesso dos imigrantes, é uma das propostas defendida pelo coordenador da área da Saúde para a Presidência portuguesa da União Europeia. Colocar na agenda da Europa a problemática das populações migrantes é o objectivo.

Segundo José Pereira Miguel, a Presidência portuguesa da UE espera contribuir "aprofundadamente" para a discussão sobre o futuro dos serviços de saúde dos Estados-membros, que, na sua opinião, deve ser decidido pelos governos e não por imposição da Comissão Europeia.

"Portugal pode fazer a diferença no campo da saúde com o seu projecto de Presidência", ao colocar na agenda assuntos como a saúde dos migrantes, acrescentou. Uma das propostas é a introdução de profissionais de saúde que dominem a língua dos imigrantes nas triagens, de forma a ultrapassar uma das principais barreiras no acesso aos serviços de saúde a diferença linguística.

"Saúde e Migrações" é precisamente o tema da Saúde para a presidência portuguesa do UE, que decorre no segundo semestre deste ano, e "uma oportunidade muito grande" para "Portugal e a Europa desenvolverem medidas que proporcionem mais saúde aos seus imigrantes", disse.

De acordo com o coordenador da Saúde para a presidência da UE, "toda a problemática dos migrantes na Europa é muito importante, pois a Europa precisa dos migrantes, estão cá muitos e continuarão a chegar mais".

A dificuldade de acesso dos migrantes aos cuidados de saúde é "um problema que se passa em Portugal e também em muitos outros países europeus" e Pereira Miguel espera que, durante a presidência portuguesa da UE, exista uma aprendizagem contínua com outros países.

"Encontrámos situações, em vários países, em que se tentaram ultrapassar essas dificuldades - não só o medo dos imigrantes ilegais serem denunciados quando procuram os serviços de saúde, mas também as barreiras culturais e linguísticas - que foram reunidas num documento que deverá ser apresentado em Setembro", anunciou.

Pereira Miguel, especialista em saúde pública e director do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, reconheceu que os migrantes "apresentam, muitas vezes, doenças infecciosas e também patologias não transmissíveis, como a diabetes e a hipertensão, problemas de traumatismos (ligados às actividades em que se empregam nos países destino, como a construção civil), e de saúde mental, devido ao afastamento da sua terra natal".