30.5.07

Quatro mil cristãos presos na Índia por pedirem o fim da violência contra minorias

António Marujo, in Jornal Público

Manifestação em Nova Deli que protestava contra os ataques de grupos fundamentalistas hindus acabou com a detenção de quase todos os participantes durante uma hora


Alguns milhares de manifestantes - cristãos, na sua maior parte - foram ontem detidos em Nova Deli, numa manifestação que visava protestar contra a violência interconfessional e exigir o respeito pelos direitos humanos e das minorias religiosas do país. A detenção de cerca de quatro mil pessoas, que durou cerca de uma hora, foi confirmada pela polícia, de acordo com a agência Asia News (www.asianews.it), mas foi ignorada pelos principais meios de comunicação do país.
A manifestação tinha sido convocada na sequência de vários episódios de violência contra cristãos, registados desde o início do ano. Também a legislação anticonversão que tem sido adoptada, nos últimos anos, em vários estados da União Indiana, estava em causa. O lema escolhido para o protesto era precisamente Acabar com a violência contra os cristãos.

John Dayal, secretário-geral do Conselho Cristão da Índia e presidente da União Católica da Índia, afirmou: "É a primeira vez, desde Novembro de 1997, que um tão grande número de cristãos é preso. Foi incrível ver religiosas, pastores protestantes, activistas dos direitos humanos, cantar juntos hinos cristãos durante a permanência na prisão".

Segundo com o Asianews, os organizadores esperavam umas duas mil pessoas, apareceram cerca de cinco mil. No início, vários oradores pediram o respeito pela dignidade humana e pelos direitos constitucionais. Grupos fundamentalistas hindus e mesmo algumas autoridades locais têm violado essas garantias básicas em relação a cristãos e outras minorias, acusam os organizadores.

De acordo com uma outra notícia da mesma agência, uns cinco mil hindus participaram no fim-de-semana numa cerimónia colectiva de conversão ao budismo. Originários das castas mais baixas, estas pessoas esperavam deste modo escapar ao "rígido sistema hindu das castas e ser tratados como seres humanos".

Shravan Gaikwad, do grupo Dalit Samatha Sainik Dal, referiu à Asia News que havia pelo menos cinco mil convertidos. Os dalit - ou intocáveis - são cerca de um sexto da população indiana, que totaliza mil e cem milhões de pessoas. Apesar de haver quotas de emprego para as castas inferiores, estas continuam a ser vítimas de discriminação e de condições de vida muito degradadas.

Os grupos fundamentalistas hindus não se opõem à conversão ao budismo - ao contrário, não admitem conversões ao islão ou ao cristianismo, por exemplo -, porque o consideram um sucedâneo do hinduísmo.

Episódios de violência e ameaças sucedem-se. No sábado, um padre foi obrigado a abandonar uma aldeia do distrito de Udaipur, no estado do Rajastão (Centro-Leste do país). O padre foi atacado e ameaçado de morte. Dias antes, de acordo com informações da mesma agência, dois outros missionários foram torturados e forçados a imergir no rio Ganges como acto de conversão ao hinduísmo.

No início de Maio, dois protestantes foram espancados no estado de Maharashtra, noticiou entretanto o Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Antes, a 24 de Fevereiro, um encontro de jovens cristãos sobre a Bíblia foi objecto de assalto por grupos fundamentalistas hindus.

Em finais de Março, o Rajastão aprovou uma lei anticonversão. Oswald Lewis, bispo católico da capital, Jaipur, receia que a lei seja usada contra as minorias. Já há leis semelhantes nos estados de Orissa, Madhya Pradesh, Gujarat e Tamil Nadu. O Conselho Nacional de Igrejas na Índia (NCCI, reúne 29 igrejas ortodoxas e protestantes) apelara, a 9 de Maio, a que as autoridades pusessem cobro aos ataques contra cristãos.

Na semana passada, a Comissão para as Minorias Linguísticas e Religiosas sublinhou também a importância de pôr fim à violência e discriminação contra cristãos e muçulmanos, no-meadamente os das castas inferiores, noticiou o CMI.