12.6.07

Formação profissional para deficientes não garante emprego

Sandra Alves, in Jornal de Notícias

O primeiro curso profissional foi feito na APEDV - Associação Promotora do Emprego para Deficientes Visuais em 1996, na área da informática e atendimento telefónico. Foram três anos intensivos de ensinamentos. Foi também nesta altura que casou. Para o marido, a formação abriu a porta para o mundo do trabalho mas para Fernanda foi bem diferente. "Estive um ano a trabalhar (em estágio) no Instituto da Água. Havia duas telefonistas e uma na pré-reforma, mas não abriram vagas na Administração Pública". Ficou cinco anos em casa e, actualmente, está na fase final de um novo estágio na Inspecção-Geral da Educação.

A história de Fernanda não é única entre os beneficiários do Programa Constelação, através do qual o Instituto de Emprego (IEFP) subsidia acções de formação profissional para pessoas com deficiência. Segundo dados do IEFP, em 2006 foram 6059 os formandos abrangidos. A maioria na faixa etária dos 15-19 anos (42,76%). Cada um recebe cerca de 400 euros por mês durante o curso e o estágio, período que tem um limite quatro anos. Quanto ao número dos que conseguem emprego, o IEFP remete para um estudo de 2003. "Constatou-se que, três meses após a conclusão da formação, 63,2% exerciam uma actividade profissional", garante-se. Já valores actuais, não há.

"Eu tenho 95% de incapacidade visual, não é intelectual nem psicológica", salienta Fernanda, lembrando que, "quando respondia a anúncios e dizia que era deficiente visual ouvia logo se calhar não é o trabalho ideal para si". Conseguiu novo estágio através da Fundação Raquel e Martin Sain. "Estou sozinha e asseguro um turno". Agora, com duas filhas (de quatro e nove anos) e à beira de terminar mais um estágio como telefonista, não esconde a sua ansiedade. "A nível psicológico afecta muito".

Na mesma situação está João Santos, de 24 anos, amblíope desde a nascença. Iniciou em Março um estágio de seis meses no atendimento telefónico do Centro de Formação Profissional de Alverca. "Antes estagiei no Fundo Social Europeu e depois fiquei um ano em casa sem conseguir arranjar nada". "Neste momento não tenho grandes perspectivas" apesar de "ser o único a fazer o serviço, das 0900 às 17:00", destaca.

Outro exemplo é o de Vasco Magalhães, de 27 anos. Fez um curso de massagista na APEDV durante dez meses, seguido de um "estágio de quase um ano numa clínica nas Laranjeiras". "Tive boa avaliação mas não me quiseram lá porque era deficiente", garante. Um ano a enviar currículos e inscreveu-se num curso de informática de nove meses na Associação de Retinopatia de Portugal. Fez estágio como formador no CIDEF - Centro de Inovação para Deficientes durante seis meses. Após duas formações e dois estágios sente-se "desapontado". As respostas às candidaturas de emprego não chegam, por isso, está a frequentar um curso de massagens orientais pago do seu bolso.