10.6.07

Fundação católica traz crianças angolanas vítimas das minas para lhes dar próteses

António Marujo, in Jornal Público

A Fundação S. João de Deus (FSJD), que se apresenta publicamente no próximo dia 12, terça-feira, irá trazer a Portugal várias crianças e jovens angolanos que foram vítimas de minas, dotando-os de próteses ortopédicas. Ao mesmo tempo, um grupo de formandos acompanhará os mais pequenos, de modo a que possam depois, em Angola, ajudar outras pessoas na preparação de próteses. Este projecto deverá ter início já em Agosto.

Criada pelos Irmãos de S. João de Deus (ISJD), instituto religioso católico vocacionado para acompanhar os mais pobres e os doentes, a nova fundação pretende ao mesmo tempo recuperar a identidade mendicante do começo desta congregação religiosa, fundada há quatro séculos: "S. João de Deus recolhia esmola para sustentar os pobres que tratava", diz ao PÚBLICO o actual provincial dos ISJD, irmão José Paulo Pereira.
O primeiro projecto da fundação, que está em marcha desde há dias através de uma campanha na comunicação social para ajudar à recolha de fundos, tem como horizonte trazer a Portugal até 15 crianças angolanas por ano, durante cinco anos. Os quatro a seis formandos que participarão virão durante os primeiros meses.

Todos, vítimas e técnicos, ficarão no Hospital de Montemor-o-Novo, onde este tipo de trabalho é já desenvolvido desde a criação da unidade de saúde, em 1950. A reabilitação da oficina ortopédica, em termos de equipamento, acompanhará a execução do projecto. Todas as despesas de viagens, estadia e mesmo a atribuição de pequenas bolsas serão financiadas pelos fundos a recolher.

Em marcha estão já outros projectos em Moçambique, Brasil e Timor-Leste. Neste país, a prioridade da FSJD será o apoio ao trabalho de prevenção primária, educação para a saúde e parcerias com centros de saúde e com o Hospital de Díli que os ISJD têm assegurado, desde que foram para Timor há três anos. Num futuro próximo, a criação de um centro de saúde mental e a colaboração na criação de uma escola de enfermagem são outras ideias.

Em Moçambique, o investimento será para o centro de saúde mental que existe em Nampula e para o apoio em técnicos e equipamentos. No Brasil, as prioridades são o Hospital Geral de Minas Gerais (que tem 1200 funcionários), um hospital psiquiátrico em São Paulo e um lar de idosos no Rio de Janeiro. Mas a fundação poderá apoiar projectos dos ISJD em outros países ou mesmo intervenções na área da saúde em países onde os irmãos não estão presentes.

Em Portugal, as oito unidades de saúde geridas pelo instituto serão também apoiadas pela FSJD: seis hospitais de saúde mental, um ortopédico e de medicina física e ainda um centro com lar de idosos e unidade de cuidados continuados.

Toxicodependência, alcoolismo, psiquiatria, saúde mental, medicina física e geriatria são algumas das áreas de intervenção destas unidades. A remodelação de espaços e a renovação de equipamentos serão prioridades, para transformar os grandes hospitais (como o Telhal, perto de Sintra) em unidades de pequenas residências.
Outros sonhos existem, diz José Paulo Pereira: um albergue e um refeitório para sem-abrigo, em Lisboa ou Porto, ideia "muito ligada ao carisma" da Ordem Hospitaleira. E unidades de cuidados continuados ou para pessoas com doença de Alzheimer ou depressão... Ou ainda a possibilidade de ter algumas camas para internamento de quem não tem dinheiro.

A ideia da fundação pretende responder ao facto de o Estado "contribuir cada vez menos para a saúde".

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