9.6.07

A máquina de uma presidência

in Jornal Público

Uma operação política que é também uma acção de charme


50 mil participantes
Estima-se a acreditação de 50 mil pessoas, entre delegados, jornalistas e pessoal da organização.

150 reuniões
À semelhança das presidências anteriores - 1992 e 2000 -, Portugal optou por "concentrar as reuniões num centro permanente" preparado para o efeito, por "razões económicas, mas também de poupança de meios", explicou o coordenador da estrutura de missão para a presidência portuguesa, Jaime Leitão. Os eventos vão decorrer, na maioria, na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Serão cerca de 150 reuniões, numa média de duas por dia. Mas haverá "alguma descentralização", com o objectivo de "mostrar o país". A sessão de abertura será no Porto, na Casa da Música, que simboliza "o Portugal moderno e inovador". Há também encontros em Guimarães, Évora, Viana do Castelo, Albufeira, Famalicão, Braga.

Staff de 30 pessoas

O núcleo que já está a trabalhar na preparação da presidência, e que será alargado mal esta comece, engloba 30 a 35 pessoas.

2000 polícias

A agenda é apertada e o planeamento é feito ao milímetro. Mas tem de se estar preparado para os inesperados, realça Ismael Jorge. Por exemplo, na presidência portuguesa de 1992, o Presidente francês François Mitterrand quis sair do CCB para dar um passeio à beira-Tejo - e a segurança teve de se adaptar rapidamente ao imprevisto. Em 2000, um manifestante conseguiu acertar com um ovo em José María Aznar. Para 2007, o número de agentes será adequado ao nível das reuniões - um encontro com chefes de Estado e de Governo mobilizará cerca de dois mil polícias, enquanto uma reunião "normal" envolverá 250 a 300. Todos os chefes de Estado e de Governo, e mesmo alguns ministros, trazem segurança própria, mas esta tem sempre de integrar o dispositivo de segurança pessoal preparado pela PSP. Sem adiantar mais pormenores, o coordenador para a segurança, Ismael Jorge, garante apenas que "há sempre uma colaboração muito próxima entre serviços de informação" dos vários países.

Aviões privados

Muitos dos chefes de Estado e de Governo vão chegar em aviões particulares que aterrarão em Figo Maduro ou noutros aeroportos militares.

Trânsito limitado

O trânsito será condicionado nas zonas entre o aeroporto, os hotéis e os locais das reuniões, com especial incidência ao início da manhã e ao fim da tarde. No Parque das Nações, que acolherá grande parte dos encontros, será feita uma coordenação com a Parque Expo para que esta informe os trabalhadores, residentes e visitantes sobre as regras especiais que vão vigorar naquela zona durante a presidência.

5000 jornalistas

O processo de acreditações só começou no dia 1 de Junho, mas estima-se que cerca de cinco mil jornalistas acompanhem os trabalhos da presidência, o dobro daqueles que o fizeram em 2000. A logística envolvida inclui 200 computadores wireless, ligações telefónicas em todos os lugares, várias linhas RDIS para as rádios e vários estúdios - por exemplo, uma reunião sem chefes de Estado e de Governo deverá ter disponíveis 15 cabinas para televisão e 10 para rádio. Mais de 50 ecrãs plasma estarão espalhados pelo Pavilhão Atlântico.

Cozinha sofisticada

Há uma equipa que gere o catering, que subcontratará nos locais fora de Lisboa que vão receber reuniões, e acordos pontuais com empresas de vinhos. As questões relacionadas com as restrições alimentares dos delegados são feitas de antemão, para não haver surpresas. No piso superior da Sala Tejo, um restaurante com terraço, envidraçado e vedado ao público, servirá almoços de trabalho "um pouco mais sofisticados" para três dezenas de pessoas, descreve o coordenador para os media, Francisco Azevedo e Silva. As refeições também poderão ser servidas nas salas de reunião - como acontece, invariavelmente, durante o Ecofin, o encontro dos ministros da Economia e das Finanças. Há "milhares de ementas" e uma "preocupação em mostrar a gastronomia nacional". Mas, "é difícil fugir do buffet, do rosbife e da salada", realça Jaime Leitão. A aposta será mais numa ""nova cozinha" portuguesa", mais leve e mais simples, acrescenta Azevedo e Silva.

35.000 quartos

A ocupação rondará os 35 mil quartos de hotel. É a presidência que determina onde ficam hospedados os ministros e delegados, suportando as despesas de três quartos - um duplo para ministro e dois singles para delegados. No caso de Lisboa, o cinco estrelas Hotel Tivoli foi escolhido por ter feito o preço mais barato. Os chefes de Estado e de Governo escolhem onde querem ficar e pagam a sua própria estadia, cabendo à presidência garantir a sua segurança e apoio médico.

51 milhões de euros

Os custos da presidência são todos assegurados pelo país acolhedor. São 45 milhões de euros de orçamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros enquanto entidade encarregada da logística da presidência e mais seis milhões de outros ministérios com iniciativas próprias no âmbito da presidência - o que dá um total de 51 milhões de euros. Há cinco reuniões que são pagas pela Secretaria-Geral do Conselho. Para dar uma ideia dos custos envolvidos só em tradução, gasta-se 850 euros por dia com um intérprete, sendo que são necessários 45 intérpretes por Conselho. Mas "é um investimento com retorno", garante Jaime Leitão. A imagem de um "país seguro e de gente competente" poderá levar uma empresa, quando tiver de decidir onde investir, a fazê-lo em Portugal. Ou, pelo menos, atrair as pessoas para virem em turismo.

Patrocínios

É patrocinador quem ofereça uma contribuição de, no mínimo, 250 mil euros. Nos transportes, a Siva (Audi e Volkswagen) enviará duas levas de automóveis, começando com 35 Audi e 35 monovolumes; em Setembro, enviará outros 70 automóveis, num total de 140 carros, que serão conduzidos por agentes da PSP. Embora não sejam movidos a energias alternativas, os automóveis são de última geração e menos poluentes. Nas comunicações, são patrocinadores a HP (quase 200 computadores), a Vodafone (todas as comunicações e telefones) e a Microsoft (software e apoio técnico). A Galp tem a cargo os combustíveis de toda a frota, a Delta os cafés, as máquinas e a manutenção nos locais das reuniões e a Sumolis vai disponibilizar frigoríficos com refrigerantes e águas. Há ainda "acordos de facilitação", por exemplo com a Brisa, que cederá identificadores de Via Verde para os automóveis.

Curiosidades

- Em Agosto, não é só Portugal que pára, a União Europeia também vai de férias (as instituições em Bruxelas fecham e só abrem se houver uma emergência, como a guerra no Líbano em 2006). O que faz com que Setembro seja descrito como um mês non-stop.
- As viagens para Portugal são da exclusiva responsabilidade dos delegados e só pontualmente são asseguradas pela Comissão Europeia.
- Nas reuniões mais importantes, o INEM mobiliza equipas de prevenção para os locais, que podem ser estendidas a hotéis e a deslocações.
- Depois de marcar "um sítio giro" para a foto de família, a organização reparou que, à hora a que termina a reunião, o sol dará de frente para os fotógrafos. "Telefonámos para lá e confirmámos que aquela hora, naquela semana de Setembro, ficaria em contraluz. Tivemos de mudar o sítio...", conta Azevedo e Silva.