28.6.07

Três mil milhões nas cidades

in O Primeiro de Janeiro

A «Situação da população mundial 2007» revelou que a população urbana mundial vai aumentar e atingirá um marco histórico já em 2008: metade viverá nas cidades. O relatório da ONU fez ainda saber que a população portuguesa vai crescer, em contra-relógio com o resto da Europa.

Portugal vai ter mais 100 mil habitantes em 2050, contrariando a tendência da Europa que até à mesma data deverá perder 74,4 milhões de pessoas. Segundo dados do Fundo da População das Nações Unidas (FNUAP) sobre a «Situação da população mundial 2007» publicado ontem em Lisboa e, simultaneamente, em várias outras capitais mundiais, que avança resultados de diversas questões relacionadas com o crescimento urbano, impactos e potencial. Este ano chamado «Desencadeando o Potencial do Crescimento Urbano», o documento especifica que Portugal passará a ter uma população de 10,7 milhões, enquanto a Europa vai registar um decréscimo significativo do número de habitantes, que passará dos actuais 727,7 milhões para os 653,3 milhões, em 2050. A taxa média de crescimento demográfico no País situa-se nos 0,4 por cento no período compreendido entre 2005 e 2010, o terceiro valor mais elevado depois da Noruega e da Albânia, que deverão crescer na ordem dos 0,5 por cento naqueles cinco anos. O relatório do FNUAP indica que a percentagem de população urbana em Portugal, actualmente, situa-se nos 59 por cento, quando a média da Europa ultrapassa os 72 por cento.

Entre 47 e 54

Relativamente a este indicador, apenas países como a Albânia, a Bósnia Herzegovina, a Sérvia, a Eslovénia e a Roménia apresentam percentagens mais baixas, que variam entre os 47 e os 54 por cento. O documento coloca Portugal entre os três países cuja taxa de crescimento urbano mais aumenta entre 2005 e 2010, com 1,5 por cento, atrás da Albânia (2,1 por cento) e da Irlanda (1,8 por cento), ao passo que a média europeia deverá situar-se nos 0,1 por cento. Na área da Saúde, Portugal apresenta a segunda mais alta taxa de prevalência do vírus da sida nos homens entre os 15 e os 49 anos, com 1,2 por cento, valor igual ao da Letónia, e inferior apenas ao da Estónia, com 2,0 por cento. Quanto às mulheres, o relatório indica uma taxa de prevalência de 0,1 por cento, o mesmo que em mais 10 países e superior apenas à República Checa e à Hungria, com valores inferiores a 0,1 por cento. O relatório indica que em Portugal os gastos públicos em saúde rondam os 6,7 por cento do Produto Interno Bruto, valor semelhante ao da Eslovénia e da Croácia e inferior ao de países como a Suécia, a Alemanha e a Noruega, que ultrapassam os oito por cento do PIB.

3,3 biliões

Genericamente, o relatório do FNUAP revela que mais de metade da população mundial residirá em zonas urbanas em 2008, o que será inédito na história. Serão cerca de 3.300 milhões de pessoas a viver em cidades, número que deverá subir para cinco mil milhões em 2030, pelo que considera que o mundo se encontra na “alvorada de um milénio urbano”. Este crescimento demográfico dos próximos 27 anos duplicará a população urbana em África e na Ásia, os dois continentes actualmente com mais residentes rurais. O estudo prevê que a população urbana em 2030 atinja 742 milhões em África e 2.640 milhões da Ásia. No caso da América Latina e das Caraíbas, o relatório da ONU prevê que a população urbana cresça de 394 milhões de habitantes, registados em 2000, para cerca de 609 milhões no ano de 2030. Actualmente, a taxa da população urbana na América Latina e nas Caraíbas é de cerca de 77 por cento, superior à taxa média registada na Europa. No entanto, o relatório sublinha que aquele crescimento se concentrará nas cidades de tamanho mediano com populações de cerca de 500 mil habitantes e não nas 20 maiores cidades do mundo.

Campo vs cidade

Ao contrário do fenómeno registado no passado, este aumento não reflecte a emigração do campo para a cidade, mas o crescimento natural da actual população urbana e especialmente dos sectores mais pobres. Apesar de tudo, o relatório adverte que isto não traduz um fenómeno negativo e recorda que desde a revolução industrial nenhum país conseguiu desenvolver substancialmente a economia sem um crescimento paralelo da população urbana. “As cidades concentram a pobreza, mas também encarnam a melhor esperança dos pobres para escapar”, sustenta o documento. As razões apresentadas são que a densidade simplifica o acesso a empregos, cuidados de saúde, escolas e serviços básicos, ao mesmo tempo que a vida urbana facilita o aparecimento de organizações civis e uma maior participação social da mulher.

Neste sentido, o relatório salienta que os estudos mostram que, por exemplo, a urbanização contribuiu em cerca de 28 por cento para a redução de 1,2 por cento da pobreza na Bolívia entre 1999 e 2005. No entanto, o FNUAP considera que a tendência dos governos para desincentivar o crescimento da população urbana e a consequente falta de planeamento contribuíram para que os pobres terminem a viver em bairros marginais, onde as potenciais vantagens da cidade não são materializadas. Os denominados bairros de lata ainda são o abrigo de cerca de mil milhões de pessoas em todo o mundo. Os governos locais devem identificar terras para construir legalmente, proporcionar serviços mínimos e asfaltar as estradas para que os pobres possam construir novas vidas, especialmente nas cidades de tamanho mediano, onde haja disponibilidade de solo, adianta o relatório. “A urbanização oferece a oportunidade para reduzir a pobreza, a desigualdade de género e a promoção do desenvolvimento sustentado, mas senão se corrigem as práticas caducas e não se fizerem os preparativos correspondentes, poderá ter o efeito oposto”, conclui o relatório.

VIH e gastos em saúde

Moçambique destaca-se, entre os países lusófonos, com os números mais altos em termos de infecção por VIH, com 13 por cento dos homens e 19,2 por cento das mulheres. A Guiné-Bissau é o segundo mais afectado, com 3,1 por cento dos homens e 4,5 por cento das mulheres, seguido de Angola, três e 4,4 por cento respectivamente. O Brasil é o país lusófono com menor grau de incidência do vírus, com 0,7 por cento dos homens e 0,4 por cento das mulheres. Nos gastos públicos destes países com a saúde foi Timor Leste o que mais investiu, dotando 7,3 por cento do PIB. O Brasil gastou 3,4 por cento do PIB na saúde, seguido de Moçambique (2,9 por cento), da Guiné-Bissau (2,6 por cento) e de Angola (2,4 por cento). Num documento dedicado ao crescimento urbano, a FNUAP revela que Brasil (85 por cento), Cabo-Verde (58,8 por cento) e Angola (55 por cento) são os únicos países lusófonos com mais de metade da população a viver em meios urbanos.

Mortalidade infantil

Dos países lusófonos, o Brasil é onde se regista a taxa de mortalidade infantil mais baixa – 24 mortes em cada mil crianças nascidas – seguido de Cabo Verde, com 25 mortes, que é o único dos PALOP que se situa abaixo da média africana (89 mortes). Pelos piores resultados sobressai Angola, com a taxa mais elevada dos países lusófonos e de toda a África Austral, com 131 crianças mortas por mil. Guiné-Bissau surge com 112, seguido de Moçambique (92) e Timor Leste (82). Estes números ficam muito aquém da média europeia, que se situa nas nove mortes em cada mil crianças. Cabo Verde é também o país que regista a maior esperança média de vida.