29.7.07

Bebés não deviam estar mais de 30 horas por semana sem os pais

AS, in Jornal Público

O conhecido pediatra Berry Brazelton e o pedopsiquiatra Stanley Greenspan defendem que nem bebés nem crianças pequenas deviam ficar mais de 30 horas por semana aos cuidados de alguém que não os pais. A recomendação consta de um dos livros que escreveram - A Criança e o Seu Mundo (Editorial Presença) - e é a passagem que refere isso mesmo que a pedopsiquiatra Isabel Brito lê em voz alta quando se lhe pergunta: qual é o número de horas que uma criança deve passar numa creche?

A médica não tem dúvidas: nem os pais estão a passar o tempo suficiente com os seus filhos nem as creches têm, muitas vezes, a qualidade que deveriam ter para prestar os cuidados que esta faixa etária exige.

"É uma situação muito alarmante. Temos de decidir se queremos gerações capazes, competentes, afectuosas, ou gerações desinteressadas pelos outros e pelo que se passa à sua volta", diz. "A capacidade de ser empático, de perceber o que os outros sentem, é algo que já sinto que as crianças têm pouco quando estão muito afastadas dos pais."
Nas consultas, Isabel Brito ouve frequentemente queixas angustiadas, sobretudo das mães: "Dizem: "Ai sofri tanto, chorei imenso quando o deixei na creche pela primeira vez, senti tanto." O problema é que a criança sentiu seguramente mais", responde a pedopsiquiatra sem rodeios. "Porque o bebé está habituado a ser vestido de uma maneira, tocado de uma maneira, a ter colo de uma maneira, a ser alimentado de uma maneira e tudo isso são rituais importantes... e, de repente, aos quatro ou cinco meses de idade, passa para algo completamente diferente onde tem que esperar que outros quatro ou cinco bebés recebam os cuidados para ele os receber."

Os pais ficam destroçados quando ouvem isto. Muitos não têm alternativas. Mas porque está mais do que estudado que é nos primeiros anos de vida "que se projecta tudo o que vai ser a pessoa futura, muitos países estão a investir nas crianças" até aos cinco anos de idade, sublinha, nomeadamente na qualidade das creches e em licenças de paternidade maiores. "O ideal seria que os pais pudessem beneficiar de uma licença que no primeiro ano de vida do bebé lhes permitisse ficar com ele o tempo todo."
Helena Marujo, psicóloga, insiste muito na qualidade das creches. "É um aspecto essencial. Não é a mesma coisa falar do impacto de uma creche sem qualidade e de uma que a tem." E isto relaciona-se com o número de crianças por adulto (no primeiro ano de vida, diz Brazelton, o rácio deve ser de três para um), que, por sua vez, está relacionado com a capacidade de atenção e de relação com cada criança; depois há aspectos como a qualificação do pessoal, ou a existência de materiais adequados à idade, por exemplo. E os pais o que podem fazer? Esforçar-se para que o tempo que ainda têm com os filhos seja "de qualidade", diz Isabel Brito, de forma "a restabelecer o contacto que foi perdido", enquanto estiveram longe.