16.7.07

Deficiente auditivo procura um emprego há nove anos

Helena Simão, in Jornal de Notícias

Marcos tem algumas dificuldades de audição, mas o seu currículo mostra que tem uma vontade enorme de trabalhar. Só lhe tem faltado uma oportunidade


Marcos André tem 31 anos e muitos de luta contra a discriminação que diz sentir todos os dias. Marcos possui uma deficiência auditiva, de 62%, mas a utilização de um aparelho permite-lhe fazer uma vida normal. Não fosse a dificuldade em arranjar um emprego. O jovem, residente em Vieira de Leiria, Marinha Grande, está inscrito no centro de emprego há nove anos. Durante este período, apenas conseguiu trabalhos temporários, que não lhe permitem ter qualquer estabilidade.

"Preciso de trabalhar para viver. Sou como os outros. Só não posso atender telefones, de resto, posso fazer tudo", afirma, nitidamente magoado. "Têm sido muitas portas a fechar-se. Demasiadas", solta, antes de enumerar a lista de cursos que frequentou. Marcos concluiu o curso profissional de higiene e segurança no trabalho, equivalente ao 12º ano, assim como vários de formação nas áreas do ambiente e informática. "Terei qualificações a mais?", questiona.

Diversos foram os concursos a que se candidatou. Sujeitou-se às provas, elaborou os testes e, no final, os resultados foram sempre negativos. "Só posso concluir que estou a ser discriminado", afirma, lamentando que não lhe seja dada uma "oportunidade" para poder mostrar que é um "trabalhador como qualquer outro". Por não possuir autonomia financeira, Marcos André reside ainda com a mãe.

No centro de emprego da Marinha Grande, é confirmada a sua última inscrição, que data de 17 de Janeiro último. A candidatura havia sido suspensa, depois do jovem ter trabalhado nos últimos meses do ano. Mais uma vez, tratou-se de um contrato temporário e a procura de emprego foi activada. Desde 1998 que as candidaturas se sucedem, primeiro em Leiria e mais recentemente na Marinha Grande. O director deste centro, Álvaro Cardoso, admite a "falta de sorte" deste candidato, mas lembra que, após o curso de técnico de higiene e segurança no trabalho, "deveria ter tratado do certificado de aptidão profissional, que ainda não consta do seu processo".

Numa tentativa de encontrar uma solução para Marcos, explica o responsável, a actual candidatura abrange várias áreas, desde escriturário, a caixeiro, passando por fiel de armazém e pelos serviços de expediente. "Vamos ver se nos próximos meses, esta inscrição é encaixada num emprego estável e duradouro", aguarda Álvaro Cardoso.

Desemprego aumenta


O segundo semestre foi "terrível", em termos de desemprego no concelho da Marinha Grande. O director do centro de emprego lembra que fecharam cerca de uma dezena de empresas, a maioria do sector do vidro, atirando centenas de pessoas para o desemprego.

Actualmente, encontram-se inscritos 1400 desempregados. As perspectivas para este ano são menos pessimistas. Álvaro Cardoso frisa o exemplo da reabertura da vidreira Marividros, ainda que com menos funcionários, "situação que se pode repetir na Dâmaso". "Espero que abram novas empresas para que o desemprego diminua", diz.