20.7.07

Equipamentos sociais da Zona Histórica em causa

Augusto Correia e Hugo Silva, in Jornal de Notícias

Hipótese de encerramento dos equipamentos sociais da Fundação revolta presidentes de junta e despedimento assusta trabalhadores

A Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto quer fechar todos os equipamentos sociais que tem sob a sua alçada e avançar com o despedimento colectivo dos funcionários. As propostas vão ser analisadas pelo Conselho Geral da instituição, em reunião extraordinária a realizar na próxima quarta-feira. No entanto, Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social, entidade que financia aquelas valências afirmou, em declarações ao JN, que o fecho "está completamente fora de questão".

"Esses equipamentos não podem fechar. Não sei como é possível surgir essa questão", insistiu Edmundo Martinho, surpreendido com a ordem de trabalhos da próxima reunião do Conselho Geral da Fundação, que coloca em situação de risco estruturas essenciais para uma das zonas mais carenciadas da cidade - um centro de apoio à infância frequentado por meia centena de crianças, um espaço de apoio a jovens com cerca de 30 utentes, um núcleo de Formação Profissional e Emprego, um gabinete para o Rendimento Social de Inserção e outro para a atribuição de bolsas de estudo a alunos com dificuldades financeiras.

Edmundo Martinho reiterou, diversas vezes, que as valências sociais são para manter, admitindo, porém, que o seu funcionamento possa desligar-se da Fundação da Zona Histórica até porque, conforme recordou, "a Câmara do Porto entende que não faz sentido a sua continuidade". A instituição vive há muito sob o espectro do encerramento, com dificuldades financeiras e dependente do entendimento, nem sempre fácil, da Autarquia com o Governo.

Trabalhadores da Fundação e presidentes de Junta do Centro Histórico desconfiam do processo que poderá levar à entrega das valências a instituições particulares de solidariedade social.

Apesar das garantias financeiras, os autarcas, com assento no Conselho Geral, tomam a proposta como válida. E mesmo que o eventual encerramento das valências sociais não os surpreenda, manifestam-se indignados com a situação. Tal como os trabalhadores, que denunciam já nem haver dinheiro para os salários deste mês e a existência de negociações para entregar os equipamentos a outras instituições. António Oliveira, presidente da Junta da Vitória, sublinhou que os autarcas estarão "muito atentos" ao destino do património da FDZHP.

O JN tentou contactar, sem êxito, responsáveis da Fundação (que está sem presidente desde finais do ano passado) para tentar saber o porquê da proposta de encerramento, quando a Segurança Social nega a situação. Por sua vez, a Câmara do Porto não quis comentar a situação.

Trabalhadores denunciam interesses exteriores

Os trabalhadores foram "surpreendidos" com o anúncio do despedimento colectivo, dois dias depois de ficarem a saber, na passada segunda-feira, que não iriam receber o ordenado de Julho. "A Administração disse-nos que o despedimento colectivo era uma estratégia de choque, para despertar os sócios-fundadores, a Câmara do Porto e a Segurança Social", contaram os trabalhadores. Considerando que a situação é "calamitosa", alertam para o drama de 24 famílias com o qual "ninguém parece preocupar-se" que decorre do anúncio. "Não percebemos como o despedimento e o fim das actividades vai resolver os problemas", dizem. "O nosso trabalhado tem resultados comprovados. Temos tido sucesso, mesmo tendo em conta as restrições financeiras", dizem, sem perceber as medidas anunciadas, que vão deixar a Fundação apenas "com edifícios vazios" e que estão a suscitar o interesses exteriores. "Não temos certezas, mas foi-nos dito que, desde Fevereiro, tem havido reuniões com as Instituições Privadas de Solidariedade Social que operam aqui também, para dividir o património da Fundação", contam, de 86 edifícios, 56 recuperados e habitados. "Se a estratégia de manter as pessoas mudou, que assumam", argumentam os funcionários, que são o rosto de uma filosofia integrada, de reabilitação das casas e de integração social e profissional das pessoas, há 16 anos no terreno. "Temos uma experiência e um conhecimento que é de valorizar em prol da população", dizem. "A Fundação ainda tem um papel importante a desempenhar, se devidamente reestruturada e com outra administração", dizem.