29.7.07

Números do drama

Jorge Heitor, in Jornal Público

80% É a taxa de desemprego no Zimbabwe, enquanto a de inflação se aproxima dos 5000 por cento


Uma vez que a carne tradicional está a escassear no Zimbabwe, um grupo de habitantes da cidade de Mutare, a oito quilómetros da fronteira com Moçambique, tem sugerido aos compatriotas que procurem sobreviver comendo cães, noticiou o jornal local Manica Post.

"A carne é muito boa e sabe melhor do que a de outros animais", disse um estudante de Psicologia da Universidade Aberta do Zimbabwe, procurando explicar por que é que estava, com três outros indivíduos, a devorar um cão que fora roubado a uma outra família.

Até há algum tempo, comer cães era inimaginável na antiga Rodésia, mas a carne de vaca e muitos outros bens essenciais estão a desaparecer dos talhos e dos supermercados, de modo que cada um está a ser forçado a recorrer ao que pode.
Por seu turno, o Presidente, Robert Mugabe, prometeu mandar imprimir mais dinheiro para projectos municipais que estão a lutar com falta de fundos. Isto, no auge de uma campanha governamental para reduzir o preço dos produtos a retalho, de modo a controlar a taxa de inflação, que tende a avançar para os 5000 por cento.

O jornal estatal The Herald, de Harare, noticiou ontem que o chefe de Estado teve uma reunião com vereadores e lhes disse: "Quando não houver dinheiro, faz-se!" Mugabe desvaloriza, aparentemente, os receios de que a impressão de papel moeda seja receita segura para que haja mais inflação.

No mês passado, o executivo ordenou reduções de preços da ordem dos 50 por cento, acusando os comerciantes de estarem a alimentar a inflação. Em consequência, as prateleiras ficaram sem pão, carne, leite, ovos e outros produtos básicos. Cerca de 5000 gerentes de empresas e proprietários de estações de serviço foram detidos e multados por não terem respeitado a directiva governamental de 26 de Junho.
O Zimbabwe, antiga colónia britânica, vive actualmente a sua maior crise desde que se tornou um país independente, em Março de 1980. Além dos alimentos, também escasseiam a energia eléctrica, o abastecimento de água e os serviços de saúde.