27.8.07

Interceptados até Agosto mais de cinco mil emigrantes a caminho das Canárias

Nuno Ribeiro, Madrid, in Jornal Público

A diminuição dos desembarques permitiu descongestionar os centros de acolhimento. Madrid diz que está a controlar melhor a emigração


Mais de cinco mil emigrantes que iniciavam a travessia rumo às ilhas Canárias foram interceptados através do dispositivo Frontex, da União Europeia, até à terceira semana de Agosto, revelaram em Tenerife no fim da semana passada as autoridades espanholas. Depois de três semanas com a ausência no mar de cayucos - barcaças -, quinta-feira chegou ao porto de Las Palmas da Gran Canária uma destas embarcações com 125 homens adultos.

"É uma notícia que não vem nas primeiras páginas dos jornais, mas as patrulhas marítimas da Guarda Civil no âmbito do Frontex já interceptaram no litoral africano 5056 emigrantes", afirmou José Segura, delegado do Governo de Espanha (equivalente ao covernador civil em Portugal) no arquipélago canário.

De acordo com os dados divulgados por Segura, até sexta-feira tinham chegado às ilhas das Canárias 6254 emigrantes, confirmando a tendência de Julho: então, face a idêntico mês do ano anterior, fora registada uma diminuição de 55 por cento de desembarques de emigrantes.

O resultado deve-se aos controlos das patrulhas marítimas no alto mar, que conseguiram "impermeabilizar" as águas das Canárias. Quarta-feira foi detectado por um avião um cayuco com problemas de navegação a 60 milhas das costas do Senegal, tendo os seus 188 ocupantes sido salvos e devolvidos a Dacar.

O facto de haver menos desembarques de emigrantes tem permitido descongestionar os centros de acolhimento que, no ano passado, estavam superlotados e albergavam emigrantes em condições precárias. No arquipélago das Canárias permanecem 865 emigrantes. Outros 408 foram repatriados a meio da semana em sete voos: seis para o Senegal com cidadãos do país e de outros da África subsariana; outro para a cidade espanhola de Melilla, no Norte de África, com 28 marroquinos a bordo.

Os efeitos dos controlos no alto mar e em alguns países africanos com que Espanha tem acordos de entendimento - Senegal, Mali, Marrocos, Argélia, Nigéria, Guiné-Bissau, Gâmbia - não se limitaram às Canárias. Segundo Alfredo Pérez Rubalcaba, ministro do Interior de Espanha, até à terceira semana de Agosto chegaram às costas espanholas 8600 emigrantes, quando em idêntico período do ano passado mais de 24 mil tinham conseguido alcançar território europeu.

As autoridades espanholas também aumentaram o crivo no aeroporto madrileno de Barajas, habitual porta de entrada de emigração irregular oriunda dos países da América Latina. Segundo revelou o ministro Rubalcaba, este ano 13 mil estrangeiros que tentaram entrar em Espanha como falsos turistas foram interceptados nos aeroportos, especialmente na capital. No ano passado, em idêntico período, tinham sido sete mil os estrangeiros interceptados e enviados aos seus países de origem.

"Estamos a conseguir controlar melhor a emigração", sintetizou o ministro. "Nem sempre é fácil aos países de origem dos emigrantes aceitarem repatriações", considerou Alfredo Pérez Rubalbaca. "Mas os governos têm de fazer muita pedagogia e explicar que se pode vir trabalhar para Espanha, mas de forma legal", insistiu.

24 mil emigrantes chegaram às costas de Espanha até esta altura de Agosto em 2006; este ano só 8600 o fizeram