14.9.07

Dalai Lama diz que Ocidente desvaloriza Direitos Humanos

São José Almeida, in Jornal Público

Recebido por Jaime Gama e pela comissão de Negócios Estrangeiros, o Dalai Lama relativizou a hostilização do PCP à causa tibetana


O Dalai Lama defendeu ontem que o Ocidente troca a defesa dos Direitos Humanos pelos interesses comerciais com a China, a cujo Governo teceu fortes críticas durante a reunião extraordinária da comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, convocada expressamente para o receber.

Um dos aspectos relevantes desta reunião foi a presença de um deputado do PCP, Jorge Machado, partido que tem relações com o Governo chinês. Um dos momentos altos da reunião, de acordo com a reconstituição feita pelo PÚBLICO, foi mesmo quando, depois de ouvir Jorge Machado declarar para a acta que estava ali como membro da comissão e porque se tratava de uma reunião com um líder religioso, o Dalai Lama, sempre sorrindo, disse com ar admirado: "Tão jovem e comunista!"

No final da sua visita à Assembleia da República, que começou com uma reunião de uma hora com o presidente Jaime Gama, o Dalai Lama, questionado precisamente sobre a presença de um deputado do PCP na reunião, demarcou-se de qualquer atitude hostil para com os militantes comunistas. E quando de novo confrontado pelos jornalistas com a posição do PCP, fez questão de salientar que "muitos dos lutadores pela libertação do Tibete são comunistas" - numa declaração que frisa a importância e o respeito que os lutadores pela autodeterminação do Tibete têm pela democracia, logo não exclui ninguém. Aliás, nas declarações aos jornalistas, o Dalai Lama fez questão de frisar que a comunidade que dirige luta não pela independência do Tibete, mas pela sua "autonomia" e "autodeterminação".

Na reunião com a comissão dos Negócios Estrangeiros, o Dalai Lama teve um momento de grande júbilo, visível na sua expressão, já de si sempre sorridente e tranquila. Foi quando ouviu o deputado Vera Jardim, que falou em nome do PS, compará-lo com Ghandi, o líder político e religioso da libertação da Índia. Há seis anos, quando o Dalai Lama esteve em Portugal e não foi recebido pelo Governo nem pela Assembleia da República, Vera Jardim foi um dos deputados que compareceram ao encontro organizado pela deputada Ana Catarina Mendonça Mendes em protesto pela exclusão do líder religioso da AR.

Dentro da reunião, que decorreu à porta fechada, estiveram assim todos os partidos, depois de o PCP ter decidido participar a título institucional. À saída, o deputado Jorge Machado explicou essa decisão com uma declaração semelhante à que fez dentro da sala. Pelos outros partidos falaram Vera Jardim, do PS, Fernando Negrão, do PSD, Telmo Correia, do CDS, e Helena Pinto, do BE.

Antes de se reunir com os deputados, o Dalai Lama esteve uma hora em audiência privada com Jaime Gama. No início do encontro, houve a troca cerimonial de presentes. O Dalai Lama ofereceu uma kata (écharpe branca budista) e três livros e recebeu uma travessa pintada com uma gravura do Mosteiro de São Bento - edifício original que está na base da construção onde funciona a Assembleia da República - e um conjunto de livros, entre os quais se destaca um sobre o Parlamento português e um exemplar da obra Os Portugueses no Tibete, de Hughes Didier, que relata a viagem dos dois primeiros padres jesuítas, ambos portugueses, que visitaram o Tibete.