13.9.07

Tiros e confrontos no Aleixo e Pasteleira

Andreia Rocha e Catarina Sousa, in Jornal Público

Os recentes incidentes nos bairros municipais do Porto confirmam o clima de criminalidade e de insegurança com que os moradores se deparam quase diariamente


Um jovem de 21 anos foi baleado na cabeça na madrugada de ontem, no Bairro do Aleixo, no Porto, encontrando-se em "estado muito grave" no Hospital de Santo António. O incidente resultou de uma rixa que terá começado perto da Torre 1 do bairro, por motivos que as autoridades ainda estão a tentar apurar.

O PÚBLICO apurou que a Polícia Judiciária já identificou o autor do disparo que terá assumido um comportamento peculiar: depois de balear a vítima, transportou-a, de táxia, ao hospital. A PJ desconhece, contudo, o seu paradeiro.

Numa noite marcada pela violência em bairros municipais, também na Pasteleira vários moradores se envolveram em confrontos, inclusivamente com a PSP, dos quais resultaram dois feridos ligeiros e uma detenção.

Tudo começou com um desentendimento entre dois habitantes do bairro, um deles menor. A discussão evoluíu para os confrontos físicos, o que terá revoltado muitos dos moradores que presenciavam a cena, dada a desigualdade entre as idades e o porte físico dos contendores. A PSP deslocou-se ao bairro da Pasteleira por duas vezes.
Quando a polícia chegou à Pasteleira pela segunda vez, foi recebida com o arremesso de uma pedra que danificou uma viatura da PSP. Segundo José Coelho, um morador de 49 anos que se queixa de ter sido agredido pelos agentes da PSP, a pedra "veio do outro lado do bairro, onde até se ouviam os assobios".

O mesmo morador acusou a PSP de ter saído dos veículos com shotguns apontadas às janelas, onde estariam crianças e idosos.

No meio da confusão, que acabou por se gerar entre largas dezenas de agentes da PSP e moradores, José, que alega ter "apenas tentado acalmar os ânimos", acabou por ser algemado e agredido enquanto estava no chão. E protesta que, apesar de se queixar de dores, a PSP se terá recusado a transportá-lo ao hospital.

Bruno, de 26 anos, queixa-se também de ter sido agredido pela PSP quando tentava defender um irmão envolvido na refrega e, tal como um dos agentes feridos, foi transportado ao hospital, onde acabou por ser detido. A PSP tem uma versão diferente. Afirma que o jovem é que provocou ferimentos ligeiros a um agente.
Bruno foi ontem presente a tribunal, constituído arguido por ofensas à autoridade e aguarda julgamento, com termo de identidade e residência.

Ao início da tarde de ontem, quando o PÚBLICO visitou o Bairro da Pasteleira, o proprietário da mercearia "Pomar", Carlos Rocha, queixava-se que acabava de ser vítima de uma tentativa de agressão com garrafas de vidro. Este comerciante reconheceu ainda um dos agressores, acusando-o de ser o mesmo que o atropelou de mota há algum tempo.

"Não há sossego neste bairro, todas as noites se ouvem motas durante a madrugada. As crianças e os mais velhos são os mais prejudicados", denunciou. Os moradores que ali passavam teciam críticas às autoridades policiais e queixavam-se da insegurança na zona.

"Todos os dias há caixotes do lixo incendiados e, periodicamente, carros assaltados. E polícia não dá atenção", acrescentou o proprietário da mercearia. Contactada pelo PÚBLICO, a PSP limitou-se a confirmar ter realizado uma detenção no bairro.