26.10.07

Erradiquemos a pobreza

in Diário do Alentejo

O país tremeu com a afirmação de que existem em Portugal cerca de dois milhões de pobres, ou seja, cerca de 20 por cento da população portuguesa, 33 anos após o 25 de Abril de 1974 ter inundado o território nacional de paz, solidariedade, dignidade, fraternidade, igualdade e liberdade. Que é feito dos nobres e colectivos sentimentos que correram as veias deste país? Terão simplesmente desaparecido? E quem os terá feito sumirem-se?

Mas o nosso país é um país de gente amiga e solidária, basta atender às campanhas que se têm realizado para ajudar famílias atingidas por desgraças ou acidentes naturais, desde incêndios a tremores de terra, ou mesmo pessoas que sofrem doenças terríveis e quantas campanhas de solidariedade as têm levado ao estrangeiro em busca do tratamento que o País não lhes consegue facultar.

Por que é que um país de gente amiga e solidária tem tanta miséria, material e humana? O Presidente da República sentiu-se envergonhado com tal anúncio na comunicação social nacional e estrangeira. A televisão pública realizou um debate no programa "Prós e Contras".

Ficamos a saber que dois milhões de portugueses vivem com menos de 12 euros por dia e que se alguns se aproximam desse montante, muitos outros nem terão metade dessa importância, para casa, água e luz, gás, alimentação, vestuário, transportes e medicamentos. Ficámos a saber que 80 por cento desses portugueses são reformados e trabalhadores por conta de outrem que recebem menos que o salário mínimo nacional, para além dos desempregados e de outras situações desesperantes.

Ficámos a saber que a pobreza em Portugal é estrutural e nada tem a ver com crescimento económico ou desenvolvimento. Há praticamente 20 anos que se mantêm os dois milhões de pobres em Portugal com ligeiras oscilações para mais ou para menos. A pobreza tem sim a ver com a redistribuição da riqueza produzida no país e aqui a ditadura dos mais fortes leva o maior quinhão, perante a passividade dos governos.

O Presidente da República afirmou-se "envergonhado" perante a situação, mas ficar envergonhado é muito pouco perante a gravidade da situação. Cavaco Silva deverá sentir-se indignado e assumir a luta nacional para erradicação da pobreza em nome de todos os portugueses de que é presidente eleito por sufrágio directo e universal.