28.10.07

"A escola deve ter uma atitude preventiva"

Leonor Paiva Watson, in Jornal de Notícias

Beatriz Pereira é professora universitária, na Universidade do Minho, no Instituto de Estudos da Criança. Há mais de 15 anos dedica-se ao estudo da violência e, concretamente, ao bullying nas escolas e nos recreios. Basicamente, acredita que a solução da indisciplina está na prevenção e no acompanhamento individualizado.

JN|O que lhe parece o facto de um aluno ter direito a provas de recuperação, após faltar três semanas, ainda que injustificadamente?

Beatriz Pereira|O aluno que falta com justificação, porque, por exemplo, esteve doente, deve ter outra oportunidade. No outro caso, sem justificação, é preciso ter em conta duas situações. Se for uma criança, a responsabilidade não é dela, mas dos pais. A situação deve ser vigiada e ela deve ter outra oportunidade. No caso de um adolescente é diferente, porque podemos estar a enviar a mensagem errada, ele pode pensar que, sendo assim, tanto faz ir à escola como não. Isso pode prejudicar até o seu futuro, porque o desresponsabiliza.

JN|No caso de um adolescente, como é que esta situação pode ser resolvida?

B.P.|A escola deve ter uma atitude preventiva. Quando se percebe que um aluno está a dar sinais de um comportamento menos apropriado, deve haver acompanhamento indivividualizado.

JN|Mas a adolescência pode ser uma fase de imprevisibilidades...

B.P.|Sim, quando nada fazia crer que um aluno fizesse algo de errado, o melhor é conversar, chamá-lo, chamar os pais, os professores e firmar um compromisso de vigilância.

JN|O mesmo com a violência grave?

B.P.|A escola tem que criar um clima que não permita a violência. E, novamente, é preciso prevenir. Aos primeiros sinais, mesmo quando se é criança, é preciso sinalizá-la para que possa ser acompanhada sistematicamente. No caso da adolescência é preciso vigiar, dar acompanhamento individual. A disciplina não se melhora por decreto, só é possível através de um clima de autoridade dos professores, mas esta tem que ser exercida em concertação.

JN|Quando faz sentido uma suspensão de 10 dias?

B.P.|Deve ser só uma solução de recurso. Se a famílai é estruturada, ele vai sentir-se penalizado e isso é bom. Mas se a família não é estruturada, ele vai para a rua, é um recreio que pode levar à iniciação do tabaco, álcool,drogas. Não traz vantagem. Fazer tarefas na escola, como, por exemplo, ajudar nas limpezas, é mais eficaz, responsabiliza-o e é mais penalizante.