25.10.07

Estudo revela preconceitos em relação às minorias

Pedro Vila-Chã, in Jornal de Notícias

Djariatú e o filho Rui são as mais recentes vítimas de um caso de alegadas ofensas racistas, num caso que já chegou ao Parlamento


"Não obstante a retórica oficial e a ideia que Portugal é um país tolerante e multiétinico, com este estudo chega-se à conclusão que há uma dominante da maioria dos inquiridos, uns de forma brutal, outros de forma subtil que denotam preconceitos em relação às minorias étnicas".

A conclusão ressalta do estudo desenvolvido, em parceria, pelos Institutos de Ciências Sociais (ICS), das Universidades do Minho e de Lisboa, entre 2001 e 2006, tendo o distrito de Braga como incidência e que radicou na distribuição de 2018 inquéritos com 125 questões. Na abertura do encontro, Silva e Costa, do ICS, lembrou "as transformações operadas na sociedade portuguesa, agora pluriétnica, onde as relações entre grupos são, por vezes, muito complicadas".

O sociólogo Manuel Carlos Silva garante que "o racismo cultural está a emergir". E essa saída da penumbra revela-se das mais variadas formas, desde os que, inquiridos, entendem que "a discriminação é necessária para educar certos grupos", até aos que acham que "as minorias são tão bem tratadas que não param de chegar ao nosso país". Mais longe vão os que consideram que a discriminação verifica-se em relação aos portugueses, "pois os pretos e os ciganos são racistas".

O estudo suporta-se em parâmetros que levam em conta posicionamentos da maioria face às minorias em matéria de habitação e trabalho. Quanto ao desemprego e, em relação a imigrantes e ciganos, as convicções formadas pelos inquiridos revela que "uns e outros, sobretudo os ciganos, desfrutam de vantagens ou benefícios comparativos sobre os nacionais não ciganos constituem motivos de ressabiamento, inveja e/ou receio".

O estudo teve, ainda, como incidência bairros sociais problemáticos. Em Guimarães, na Atouguia, 70 por cento dos inquiridos revelaram ter boa relação com os ciganos ali residentes, mas já manifestou que não gosta de ter aquela minoria como vizinha. No bairro Nogueira da Silva, próximo do Picoto, em Braga, os moradores afirmam que "antes da instalação dos ciganos, o local era calmo e seguro".

Mas é nos inquéritos distribuídos em Barcelos que se encontram as posturas mais radicais. "As pessoas mais desqualificadas manifestam um racismo brutal e as mais qualificadas aludem formas subtis de racismo", adianta Manuel Carlos Silva.Na análise à comunidade PALOP de Braga, José Manuel Sobral encontrou razões associadas ao estudo e às más condições de vida nos países de origem como motivo para a imigração. Entre os que trabalham, o nivelamento faz-se pelo baixo salário, igual e em muitos casos inferior ao salário mínimo.

Junto das comunidades ciganas, Carlos Silva sublinha que "as políticas de exclusão transformaram-se em políticas de reclusão", apontando Guimarães como município "onde tem sido desenvolvido um trabalho válido de coexistência", por contraponto a Braga ("segregados") ou Barcelos ("acções pontuais").

Este é o primeiro de uma série de três seminários. O próximo será no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sobre Imigrantes Africanos, regressando a Braga para debater o caso dos ciganos.

Casos latentes

Os investigadores participantes no seminário centraram-se sobre duas notícias do JN para realçar a pertinência e actualidade do debate sobre racismo. A afirmação de James Watson (Nobel da Medicina em 1962) que "os negros são menos inteligentes que os brancos" e a notícia sobre a alegada agressão a uma cidadã guineense no centro de Braga mereceram da parte do professor catedrático, Silva e Costa, as chamadas de atenção. Entretanto, Ricardo Gonçalves e Celeste Correia, deputados do PS questionaram o Ministério da Administração Interna sobre a actuação da PSP.