21.10.07

Guineense denuncia acto racista em pleno centro da cidade

Pedro Vila-Chã, in Jornal de Notícias

O racismo é crime! Porém, ainda há quem o cometa, de forma gratuita e com total impunidade. Em pleno centro de Braga, uma mãe viu o seu filho ser "arrancado" do baloiço onde brincava, porque o pai de outra criança achou que o seu rebento tinha "mais direitos" que o outro. Por uma questão de pigmentação. Da pele. Djariatú Mané ficou confusa, ofendida e revoltada, porque em parte os insultos racistas e agressões "foram presenciados por dois agentes da PSP, de forma relutante", diz a queixosa. A queixa só foi formalizada 18 dias após as ocorrências.

Djariatú Fatú Lopes Mané estava com o filho Rui, de três anos, num parque infantil em pleno centro de Braga, em frente à igreja dos Congregados. Vigiando as brincadeiras do petiz, alarmou-se quando os pais de outra criança forçaram o Rui a sair do baloiço, para que o filho deles ocupasse o equipamento. "Vi o meu filho a ser arrancado pelo senhor, caindo no chão com o lábio superior a sangrar. Corri em auxílio, perguntando o porquê de tal barbaridade. Ele respondeu "O meu filho está no seu país e tem todo o direito de estar no baloiço que o seu filho está a ocupar indevidamente".

Djariatú ficou mais perplexa quando a mãe e a avó da outra criança embarcaram no insulto. "Chamaram-me preta, macaca e prosseguiram 'Vai para a tua terra. Estás em Portugal atrás de comida. Em África passavas fome e vivias no mato'", diz a guineense.

Djariatú, após ter apodado de "racistas" os agressores, tentou captar as atenções dos transeuntes e de agentes que passavam num carro-patrulha. "Vendo a minha reacção, o agressor, André B., empurrou-me e deu-me ordens para estar calada, enquanto a sua mulher e a sogra me insultavam".

O desespero de Djariatú aumentou quando viu o alegado agressor prosseguir nos seus intentos "apesar de agarrado pelos polícias". "O homem tentou agredir-me de novo. Soltou-se dos polícias, empurrando-os e, mostrando-se arrogante, disse que era militar e que não podia ser preso", relata a vítima.

Queria apresentar queixa, mas "os polícias mandaram-me calar, aconselhando-me a ir embora. Deixaram partir os agressores sem sequer pedir a identificação. Decidi ficar junto dos polícias até que fizessem alguma coisa. Não agiam e liguei à minha mãe, que veio em meu auxílio", prossegue Djariatú. Foi então que a vítima, acompanhada da mãe e do irmão, foi no encalço dos alegados agressores. "Quando os vimos, a minha mãe pediu-lhes satisfações. O homem respondeu 'Está calada, sua preta'. Então chamámos, novamente, a Polícia, que, já no local, voltou a assistir aos insultos e a nova tentativa de agressão. Só então identificou os agressores ", explica Djariatú.

Decidida a formalizar a queixa, foi ao comando da PSP, na Rua dos Falcões. "Quando ia apresentar a queixa, já com outro agente, disseram-me que a identificação dos agressores não constava no registo. Este polícia pediu que voltássemos no dia seguinte, pois então já teria na sua posse o relatório dos factos, redigido pelos colegas. Disseram-me para aguardar em casa a chegada da intimação para depor". Só que os dias passaram e o correio não trazia novidades, até que decidiu ir novamente ao comando da PSP, onde finalmente viu lavrada a queixa. 18 dias depois.

"Envolvidos informados das prerrogativas legais devidas"


Questionado sobre o ocorrido, o Gabinete de Apoio ao Comando PSP/Braga enviou para a nossa redacção a seguinte explicação "Atento o solicitado e lamentando a tendência unilateral colocada nas perguntas a PSP de Braga, informa: A ocorrência verificou-se em 28 de Setembro e teve o adequado tratamento (imediata participação pelos elementos policiais); Porque nada do comunicado foi presenciado pela PSP e porque o relato configura os eventuais crimes de injúrias e de ofensas à integridade física, foram os envolvidos informados das prerrogativas legais devidas (a prossecução criminal dependia de queixa); Só em 15 de Outubro foi exercida essa prerrogativa pela cidadã em causa, cabendo, assim, a demora à própria; A PSP de Braga adoptou e adoptará sempre os procedimentos devidos sem distinções ou descriminações , sejam positivas sejam negativas." [SIC]