20.10.07

Moldar a globalização

Teresa de Sousa, in Jornal Público

Brown defende que a UE deve liderar a reforma das instituições multilaterais


José Sócrates e Durão Barroso partilham a mesma visão de uma Europa aberta ao mundo, sem medo da concorrência dos mercados. Estiveram, pois, facilmente em sintonia na apresentação das "conclusões" informais do debate sobre a dimensão externa da agenda de Lisboa, que ocupou os líderes na última sessão da cimeira, ontem de manhã.

Foi um debate aberto e dominado pelo espírito de concórdia sobre um tema que normalmente divide os europeus, mas sobre o qual é fundamental que se entendam se a Europa quer passar de uma posição "reactiva" para uma posição "ofensiva" perante os desafios da globalização. Barroso resumiu o consenso da seguinte forma: "A Europa deve proteger os cidadãos sem ser proteccionista, tem de defender a abertura dos mercados sem ser ingénua". Uma boa síntese para posições divergentes que vão da tentação mais proteccionista da França à visão absolutamente liberal da Dinamarca.
Curiosamente, Gordon Brown (na foto), um dos principais intervenientes do debate, defendeu uma posição moderada, aliás em relativa consonância com a presidência portuguesa. Com uma ideia forte e ambiciosa, retomada pelo primeiro-ministro português na síntese dos trabalhos: para moldar a globalização, a Europa tem de ser capaz de liderar a reforma das instituições multilaterais. Isso, mais a regulação dos mercados através de normas sociais, ambientais e financeiras, e a assunção mais clara do seu papel liderante nas alterações climáticas.

Para sublinhar esta abordagem comum aos desafios da globalização, o primeiro-ministro britânico assinou com a chanceler Angela Merkel e com o Presidente Sarkozy uma declaração conjunta na qual os três defendem que a União deve ter "um papel forte" na preparação de respostas globais à recente turbulência dos mercados financeiros. Depois de algum debate e de algumas resistências, os líderes encarregaram a presidência portuguesa de preparar para Dezembro uma declaração sobre a globalização.