27.11.07

No ano passado as mortes relacionadas com droga mantinham-se acima de 200

Ana Cristina Pereira, in Jornal Público

Cannabis permanece a substância ilícita mais consumida e mais apreendida. Como sucede em toda a Europa, com a valorização do euro face ao dólar, a cocaína manteve a sua escalada


Depois da subida acentuada de 2005, Portugal não conseguiu recuar nas mortes relacionadas com substâncias ilícitas. No ano passado, tal como no ano anterior, dia sim, dia não, o Instituto Nacional de Medicina Legal registou uma morte desta natureza, indica o Relatório sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências, que é hoje à tarde apresentado na Assembleia da República.

Por haver mais hipóteses de tratamento, mas também por se terem multiplicado os programas de redução de danos, à semelhança de outros países europeus, Portugal iniciou uma tendência decrescente em 2000 - 369 casos em 1999, 318 em 2000, 280 em 2001, 156 casos em 2002, 153 em 2003, 156 casos em 2004. Depois do disparo ocorrido em 2005 (219), a diminuição de 2006 (216) soa tão ligeira que o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, a qualifica de insignificante. Fala em consolidação.

O médico considera o número de mortes "muito elevado". Salienta, todavia, que esta estatística inclui todos os exames toxicológicos que deram positivo, isto é, todas as mortes com testes que indicam vestígio de consumo de substâncias psicoactivas. As mortes por overdose representam 52 por cento deste universo.

O reparo de João Goulão serve para relativizar a posição de Portugal no ranking europeu. Segundo o relatório anual do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), que foi apresentado a semana passada em Bruxelas e hoje é dado a conhecer em versão resumida no Parlamento, só o Reino Unido (3161), a Alemanha (1329), a Itália (603), a Grécia (284) e a Dinamarca (275) apresentam mais mortes do que Portugal em 2005. "Alguns países só reportam as mortes por overdose, não as outras", sublinha.

Cocaína ainda sobe

O relatório anual não tratá grandes surpresas em matéria de tráfico e consumo. A cannabis permanece a substância ilícita mais consumida em Portugal, sem que se tenha verificado "uma subida significativa dos consumos" como em anos anteriores, adianta João Goulão. Esta é, também, pelo quinto ano consecutivo, a droga mais apreendida.
A cocaína prossegue a sua escalada, como acontece um pouco por toda a Europa. Até pela valorização do euro face ao dólar - como a semana passada explicava Paul Griffiths, coordenador científico do OEDT, em Bruxelas - a Europa converteu-se no mercado mais apetecível para quem negoceia a venda desta substância a partir da América do Sul. E Portugal numa das suas principais portas de entrada.

De resto, apesar do aumento da produção de ópio no Afeganistão, e de heroína no mercado nacional, o consumo desta droga está estabilizado em Portugal. Esta é ainda a substância de uso mais referida como principal pelos toxicodependentes em tratamento. E é também a mais associada aos casos de morte registados no país (133).