19.12.07

Cavaco mostra exclusão entre a dor e a esperança

Eva Cabral, in Diário de Notícias

O ambiente é colorido, quente e acolhedor, marcado pelos sorrisos e os mimos que todas as crianças merecem. Em tempo de Natal e pouco antes de deixar a casa da Acreditar, Cavaco Silva tinha à sua frente presentes embrulhados em papéis verdes ou vermelhos, a lembrar a bandeira da República. Para quem é um avô atento e tem natural facilidade em falar com crianças a tarefa parecia simples: cada menino tem um nome, e a cada nome corresponde uma prenda. Mas nem sempre a vida é fácil.

"Onde está o João?" perguntava, de prenda na mão, o Presidente da República logo confrontado com a explicação de uma das voluntárias que informava da ausência por causa dos tratamentos médicos no Instituto de Oncologia.

Felizmente, Cavaco Silva viu sorrisos infantis de quem recebia a sua prenda e a directora executiva da Acreditar - instituição que apoia as crianças com problemas oncológicos e as suas famílias -a afirmar que a medicina consegue já dar resposta à maioria dos problemas. Mas, apesar de visivelmente satisfeita com a visita do Presidente da República à Acreditar, Margarida Cruz, deixou também alertas sérios sobre " a crescente degradação das condições de muitas famílias". Quando Cavaco Silva quer aprofundar as causas deste crescendo de problemas Margarida Cruz assaca culpas ao desemprego e aos empregos cada vez mais precários, que levam a que "quem tem de deixar de trabalhar para acompanhar um filho doente se veja de repente a braços com falta de dinheiro até para pagar a renda da casa".

Já de manhã o Presidente da República reconhecera que o desemprego "é um fenómeno preocupante" deixando no ar a ideia de que o tenciona abordar mais tarde.

Ontem - tal como fez questão de frisar -, o dia do Presidente foi dedicado a percorrer um roteiro de visitas a quatro instituições de solidariedade social que, com sucesso, dão a resposta a situações de exclusão extrema. A manhã começou na Comunidade Vida e Paz onde acompanhado por D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, contactou com sem-abrigos com problemas graves de toxicodependência e alcoolismo. Mais do que saber que a Comunidade tem uma taxa de recuperação de 70% nos casos de toxicodependência, o Presidente ouviu casos relatados na primeira pessoa e exortou à esperança, realçando o papel do voluntariado e da sociedade civil.

Na segunda paragem do roteiro, na Casa da Saúde da Idanha, onde as irmãs hospitaleiras há mais de cem anos que acolhem mulheres com doença ou deficiência mental, Cavaco voltou a destacar o papel insubstituível dos voluntários, deixando palavras de estímulos aos técnicos e dirigentes e reconhecendo que nem sempre se aproveita as boas vontades existentes.

A tarde do Presidente acabou na associação 'O Companheiro' onde ex-reclusos tentam reconstituir vidas também elas marcadas por histórias mais ou menos pesadas de exclusão social extrema.