16.12.07

Famalicão inverteu o perfil das famílias de acolhimento

in Jornal Público

Associação Mundos de Vida apostou no recrutamento e formação


Havia 102 crianças em família de acolhimento (73 por cento com relação de parentesco) em Famalicão. A situação de cada uma arrastava-se, o recurso a esta medida diminuía. Em 2002 e 2005, a Segurança Social nem sequer captara novas famílias. Não havia programas de formação especializados, tão-pouco acompanhamento e avaliação permanente.

Decidida a inverter o cenário, a associação Mundos de Vida desenhou um serviço de famílias de acolhimento, recorda o seu presidente, Manuel Araújo. Apresentou o projecto ao Centro Distrital da Segurança Social de Braga como uma iniciativa inovadora na protecção à infância que incluía outros programas, como a reunificação familiar (trabalhando junto das famílias biológicas). O protocolo foi assinado a 1 de Julho de 2005. O perfil já se inverteu: 45 por cento das famílias Mundos de Vida têm licenciatura contra oito por cento das recrutadas pela Segurança Social. Apesar de a escolaridade não ser condição para um agregado ser considerado apto, a assistente social Celina Cláudio vê aqui um sinal de motivação humanitária e não económica.

Houve duas campanhas destinadas a captar essa nova geração de famílias de acolhimento. Cada campanha com a sua figura pública, ambas assentes na ideia de que "todas as crianças têm direito a crescer numa família". Sob o lema "procuram-se abraços", procurou--se passar uma imagem positiva de quem temporariamente acolhe e de quem é acolhido, refere Celina Cláudio. Montou-se um serviço telefónico para reunir contactos, esclarecer interessados e convidá-los para um "encontro informativo". Houve 222 contactos em 2006, 216 em 2007.

O processo de formação e selecção começa com uma conversa. No seu decurso, há "uma entrevista psicossocial" destinada a avaliar a dinâmica familiar, a rede de suporte social, as expectativas do acolhimento. Antes da avaliação final, a equipa técnica procede a uma visita domiciliária e a uma segunda entrevista. O programa de formação inspira-se na prática espanhola. Se tudo corre bem, a candidata entra na bolsa de famílias de acolhimento.

Manuel Araújo alude à violência que se abate sobre uma criança retirada de casa de rompante. Sempre que não se verifica uma situação de emergência, a equipa prepara a saída de casa e a entrega a uma família de acolhimento. Trabalham também a família biológica, já que "o acolhimento só atinge o seu verdadeiro objectivo quando é temporário". A.C.P.