18.12.07

Fosso digital português assenta na falta de educação

João Pedro Pereira, in Jornal Público

Maioria dos lares portugueses sem ligação à Internet não a tem porque elementos do agregado familiar não sabem usar a tecnologia


Menos de metade da população portuguesa usa o computador e apenas quatro em cada seis lares tem acesso à Internet. Portugal está abaixo das médias europeias no que diz respeito à penetração das tecnologias de comunicação e informação. E, mais do que na maioria dos países da Europa, há discrepâncias ao nível da adopção de tecnologias entre os mais jovens e os idosos, estudantes e não-estudantes, activos e reformados.

O relatório A Sociedade da Informação 2007, publicado hoje pela Agência para a Sociedade do Conhecimento (Umic), compila o resultado de vários inquéritos feitos a empresas, sector público, instituições de ensino e agregados familiares e traça assim o estado da nação ao nível do uso de tecnologias de informação e comunicação.
Ao nível da penetração da Internet, é com os números dos estudantes do ensino secundário e do ensino superior que Portugal obtém melhores classificações.
Até ao terceiro ciclo de ensino, a taxa de acesso à Internet é reduzida, mas os 81 por cento de estudantes do ensino secundário que estão ligados à rede colocam Portugal muito acima dos 66 por cento da média europeia e próximo de países como a Suécia, França e Dinamarca. Já os 90 por cento de estudantes universitários on-line fazem com que Portugal fique um pouco mais abaixo na respectiva tabela, mas, ainda assim, acima dos 87 por cento de média da Europa.

O presidente da Umic, Luís Magalhães, fala de um "défice educacional" e esclarece que "o fosso digital em Portugal está mais directamente ligado ao nível de educação do que a outros factores" e que, em termos estatísticos, as diferenças no acesso à tecnologia se estabelecem entre quem tem educação ao nível do secundário e quem a não tem.

De facto, os números começam a derrapar quando se sai do universo estudantil. Revelando discrepâncias maiores do que em muitos outros países, apenas 46 por cento dos portugueses com emprego são cibernautas, número que cai para 38 por cento no caso dos desempregados e apenas oito por cento no caso dos reformados.
Por comparação, a Espanha, que tem uma taxa de penetração de Internet entre estudantes ligeiramente abaixo da portuguesa, apresenta 64 por cento de trabalhadores com acesso à Internet, um valor muito mais próximo dos 71 por cento da média europeia.

Não saber usar a Internet

Entre as principais razões para que um lar português não tenha Internet está o facto de os seus habitantes não saberem como utilizar a tecnologia, situação que afecta 57 por cento dos agregados domésticos actualmente sem ligação.

Em segundo lugar nos motivos apontados aparece a resposta "não precisar de Internet". O preço do equipamento e os custos de acesso surgem apenas em quarto e quinto lugar, com os conteúdos perigosos e receios de perda de privacidade praticamente no fundo da tabela.

Os cibernautas portugueses, contudo, parecem ser sofisticados. Entre os que estão regularmente on-line, 37 por cento acede via telemóvel, 22 por cento faz chamadas de voz ou videoconferências através da Internet e 29 por cento usa serviços de home banking.

No topo da lista das actividades on-line continua, contudo, a troca de e-mails (84 por cento), seguida de perto pela conversação instantânea em salas de chat ou programas como o MSN Messenger (83 por cento).

Sites sociais, como o Hi5 (particularmente popular em Portugal), o MySpace ou o YouTube são destino frequente de 53 por cento dos cibernautas. Um terço dos inquiridos afirma ainda usar a Internet para o envio de documentos oficiais.
Outra novidade indicada pelo relatório aponta uma predilecção pelos leitores portáteis de música digital. São já 71 por cento os lares portugueses onde existe um destes aparelhos, que chega, assim, a tantas casas como o telefone fixo (que tem vindo lentamente a perder terreno, num país onda a taxa de penetração do telemóvel chega aos 122 por cento).

Um terço dos inquiridos afirma ainda usar a Internet para o envio de documentos oficiais.