16.12.07

Projecto da Santa Casa só para meninos sem ligação à família

in Jornal Público

Feito a pensar nas crianças cuja probabilidade de adopção é reduzida


Destina-se a encontrar uma resposta alternativa aos lares, mas só para crianças cuja situação de adoptabilidade já foi decretada pelo tribunal. O público-alvo do Projecto Famílias Solidárias é constituído por meninos sem quaisquer laços com as famílias biológicas mas que, por alguma razão, ninguém quer adoptar. Têm entre seis e 14 anos, são de diversas etnias, alguns apresentam problemas de saúde, doenças crónicas, HIV - factores que dificultam a adopção, explica Margarida Guerra, assistente social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Actualmente, há 18 crianças à espera de uma "família solidária" e 11 já integradas.

Desde 2005, a SCML recebeu 31 candidaturas de aspirantes a "famílias soldiárias", das quais 14 foram excluídas. As razões para a exclusão são diversas: "As famílias podem apresentar uma motivação pouco adequada" ou não passar nos testes psicológicos - por "terem um perfil de personalidade pouco equilibrado", diz Isabel Silva, psicóloga. Um casal que quer acolher uma criança porque acha que essa pode ser uma forma de salvar um casamento é um exemplo de uma candidatura que será rejeitada. Predominam, entre os candidatos, "pessoas da classe média alta". Há psicólogos, arquitectos, engenheiros, professores universitários... Todos recebem um mês de formação (seis sessões de duas horas e meia), ainda durante o processo de selecção.

Já aconteceu um caso em que a criança acolhida teve que regressar ao lar, explica a assistente social. "Houve circunstâncias na vida daquela pessoa que se alteraram e ela começou a desinvestir na criança."

Ainda assim, sublinha, o balanço é positivo. "Os meninos integrados estão bem, há uma evolução escolar muito acentuada, quem tinha problemas de comportamento está muito mais tranquilo, os que estão doentes tiveram uma evolução muito positiva..."
Uma criança só é acolhida depois do tribunal concordar com essa medida proposta pela SCML. E cada uma tem um gestor de caso que acompanha o processo de integração na família, nomeadamente através de visitas ao domicílio - começam por ser semanais, depois passam a quinzenais e mais tarde só acontecem de três em três meses.

Ser "família solidária" é, na teoria, um projecto "para um dado período de tempo". Na prática, pelas suas características que dificultam a adopção, muitas crianças podem ficar acolhidas até terem idade para se autonomizar, sublinha Margarida Guerra. A.S.