16.1.08

Aliança cria empregos para jovens no Médio Oriente e Norte de África

Nuno Ribeiro, Madrid, in Jornal Público

YouTube será plataforma de projecto de criação audiovisual.
Jorge Sampaio lembra que aliança tem de estar orientada para a acção


O I Fórum da Aliança de Civilizações, que ontem se iniciou na capital espanhola, arrancou com projectos concretos. Como o da criação de postos de trabalho no Médio Oriente e Norte de África, promovido pelo Qatar. Os discursos bem-intencionados e repetitivos ficaram, assim, em segundo plano.

"Os dirigentes internacionais não cumpriram as suas responsabilidades face aos jovens, daí o nosso projecto para ocupar este vazio." Com poucas palavras, a princesa Mozah bint Nasser al Missned, do Qatar, anunciou o Silatech, uma iniciativa para criar postos de trabalho e oportunidades e evitar que os jovens do Médio Oriente e do Norte de África "sejam presas do desespero". Silatech, que em árabe significa "a tua ligação", visa pôr os jovens em contacto com o mundo empresarial e laboral. Para já, o Qatar, associado ao Banco Mundial e à Cisco, faz uma contribuição inicial de 100 milhões de dólares para este projecto.

A princesa Mozah recordou que, segundo os dados da Organização Internacional do Trabalho, na próxima década 1,2 mil milhões de jovens entram no mercado do trabalho, 85 por cento dos quais de países em desenvolvimento. "Falhar a estes jovens seria um grande erro", disse Mozah.

Por seu lado, a rainha Noor, da Jordânia, anunciou um fundo de 100 milhões de dólares para audiovisuais que promovam a integração cultural. "O objectivo é que mostrem as relações que existem entre as nossas diferentes sociedades", enunciou.
A monarca jordana já conseguiu o apoio da International Creative Management Entertainment, uma distribuidora de cinema de Hollywood, e da plataforma de Internet YouTube que servirá de novo canal para a Aliança das Civilizações. "Dói-me o coração que haja crianças a interiorizarem informação equívoca que aparece nos filmes e nos meios de comunicação sobre gente que é diferente e reza diferentemente", insistiu Noor.

Sampaio optimista

"O trunfo da Aliança das Civilizações é estar orientada para a acção e para a obrigação dos resultados", comentou Jorge Sampaio, alto-representante das Nações Unidas. As iniciativas ontem anunciadas e outros projectos concretos, como o Media Found e o mecanismo de resposta rápida em situação de crise, deixam Sampaio optimista. O ex-Presidente, o único orador da sessão de abertura a destacar que o desenvolvimento sustentável inclui a preservação da diversidade cultural, deixou um alerta: "É preciso que cada civilização, cada religião e cada cultura sejam capazes de praticar, no seu interior, a tolerância, o reconhecimento do direito à diferença".
"Nunca antes houve tanta necessidade para o entendimento entre as nações", corroborou Ban Ki-moon. Mas o secretário-geral da ONU reconheceu que é difícil "traduzir as palavras de boa vontade em acções específicas".

Rodriguez Zapatero que, com o primeiro-ministro turco, Tayyp Erdogan, foi o obreiro da Aliança, referiu as virtudes da iniciativa. "Identificou um problema, o da gestão da diversidade num mundo globalizado, para o qual não dispúnhamos de instrumentos políticos adequados." Já Erdogan vinculou a entrada da Turquia na União Europeia (UE) como prova da validade da Aliança de Civilizações.