17.1.08

Mundo menos livre em 2007 e metade da população não vive em liberdade

Francisca Gorjão Henriques, in Jornal Público

Surpresas positivas só na América Latina


O que é um país livre? É um país onde há debate político aberto, actividade cívica independente, respeito pelas liberdades civis e media que não são controlados pelo Estado. De acordo com a Freedom House, que elaborou esta designação, o mundo ficou menos livre em 2007. Menos de metade da população mundial vive em liberdade.

O relatório "Freedom in the World, 2008", tornado ontem público, "mostra uma perturbante deterioração da liberdade em todo o mundo", afirmou Arch Puddington, director de pesquisa da Freedom House. "Alguns países que antes tinham mostrado progressos para a democracia regrediram, enquanto que nenhum dos mais influentes [na lista dos] países não-livres mostrou sinais de avanço", diz o comunicado.

Se o declínio das liberdades é mais acentuado na Ásia - o Paquistão é um dos principais exemplos, para além do Bangladesh e Filipinas - "também atingiu níveis significativos na antigo União Soviética, Médio Oriente, Norte de África e África sub-sariana", conclui o relatório deste instituto não governamental. A situação deteriorada em alguns países trouxe "amplas implicações regionais e globais": mais uma vez, a Rússia e o Paquistão, mas também Egipto, Quénia, Nigéria e Venezuela.

E nenhum dos casos rotulados como "o pior dos piores" mostrou sinais de evolução. "Isto representa uma quebra em relação ao que acontecia nos últimos anos", em que havia progressos em algumas das mais controladas ditaduras do mundo.
São 90 os países designados "livres" em 2007, ou seja, 46 por cento da população mundial. O número não sofreu alterações de um ano para o outro, mas muitos dos países que estavam na categoria de "parcialmente livres" ou "não livres" sofreram um sério agravamento da situação. O relatório adianta que apenas dez países - incluindo a Tailândia e o Togo - mostraram uma evolução positiva.

Num Estado "parcialmente livre" há um respeito limitado pelas liberdades e direitos políticos; frequentemente há um ambiente de corrupção, um Estado de direito fraco, problemas étnicos e religiosos, e muitas vezes um único partido domina a política, apesar de um pluralismo de fachada.

46% da população mundial vive nos 90 países designados "livres" em 2007, ano em que só 10 tiveram uma evolução positiva. "Este é o pior ano para o estado da liberdade em 15 anos", afirmou ontem ao PÚBLICO por telefone Arch Puddington, director de investigação da Freedom House. "Imediatamente após a guerra fria houve progressos consideráveis, mas depois começou a registar-se um declínio." No entanto, acrescenta, nunca a situação esteve tão séria. "Os resultados mostram que na Ásia, ex-URSS e África as eleições têm sido a parte mais fácil. Mas as instituições democráticas, liberdade de imprensa, criação de um Estado de direito são muito mais difíceis de construir." O responsável da Freedom House comenta ainda que "depois das revoluções coloridas do Quirguistão e Geórgia muitas ditaduras tomaram medidas para garantir que não lhes acontecia o mesmo", agravando a repressão. "Supresas positivas" só mesmo a América Latina, com a excepção da Venezuela.