29.1.08

A UE está mais incompreensível para os portugueses

Andreia Sanches, in Jornal Público

Em seis meses, a imagem que os portugueses têm da União Europeia (UE) melhorou. Mas a proporção dos que afirmam compreender como é que ela funciona diminuiu "dramaticamente" (de 41 para 32 por cento). Uma sondagem feita no decurso da presidência portuguesa da UE revela ainda que os níveis de confiança nas instituições baixaram - apenas 30 por cento dos inquiridos dizem confiar no Governo e 34 por cento no Parlamento. Já a UE merece a confiança de 57 por cento dos cidadãos.

A cada seis meses é divulgado um novo Eurobarómetro com o objectivo de analisar as atitudes da opinião pública da UE face a um conjunto de temas. O mais recente foi ontem disponibilizado e baseia-se em inquéritos aplicados entre 22 de Setembro e 3 de Novembro. "Tendo em conta o contexto económico extremamente negativo e prolongado em que Portugal se encontra, não surpreende que os portugueses olhem de forma negativa a situação do país, tanto a nível económico, como do emprego e do bem-estar social. O pessimismo em relação a estes temas é dos maiores da UE-27", revela o relatório que analisa os resultados obtidos em Portugal.

Alguns dados: a esmagadora maioria dos portugueses (89 por cento) avalia negativamente a situação económica do país (pior só na Hungria, com 90 por cento). Seis em cada dez estão insatisfeitos com o funcionamento da democracia. E só 14 por cento consideram "boa" a situação ao nível do "bem-estar social" (conceito que traduz, na opinião dos autores do relatório, a percepção da qualidade do Estado-providência ). Mais críticos, só os búlgaros.

Num semestre marcado pela presidência portuguesa da UE e pela assinatura do Tratado de Lisboa, a "imagem" que os portugueses têm da UE melhorou (56 por cento dizem que é positiva, contra 52 por cento em Abril/Maio). Mas as críticas fazem-se ouvir na mesma.

Por exemplo: os portugueses são os europeus que menos consideram a UE como tendo um papel positivo na economia do país - apenas 19 por cento dos inquiridos consideram que a actuação da União é positiva para o evoluir da situação económica. A média, para o conjunto dos europeus, é de 39 por cento. Ainda assim, entendem que o palco europeu deveria ser o nível de decisão de um conjunto de políticas, como as que visam o combate à inflação. E não só. Na primeira metade de 2007 a maioria dos portugueses (51 por cento) defendia que as pensões deveriam ser um assunto a decidir por cada Estado-membro. Seis meses depois, a situação mudou e 54 em cada cem defendem que afinal as pensões devem ser uma área de intervenção europeia.

Apesar de ter havido mais informação nos media portugueses sobre a UE - informação que a maioria não considera satisfatória -, menos de um terço dos portugueses diz que compreende a forma como a UE funciona. A média europeia é de 40 por cento e reflecte, também ela, uma descida dos níveis de compreensão da União por parte dos europeus - mas menos acentuada (três pontos percentuais) do que em Portugal.

54% dos portugueses defendem pensões decididas a nível europeu; só 28 por cento dos europeus afirmam o mesmo.