25.2.08

Ciganos continuam malvistos pelos que não se acham racistas

Rute Araújo, Nuno Brites, in Diário de Notícias

Os portugueses interiorizaram uma norma anti-racista, sabem que ser preconceituoso não é bom. Mas, na forma como se comportam e naquilo que dizem, replicam o comportamento que condenam. Que o digam os ciganos do distrito de Braga, que, de acordo com um estudo realizado naquele distrito, continuam a ser malvistos. Os portugueses acham que estes são maliciosos (61,5%), preguiçosos (70%) e mentirosos (67,5%) e não querem que os seus filhos tenham relacionamentos com eles (44%).

O estudo Relações interétnicas: portugueses, portugueses-ciganos e imigrantes dos PALOP vai ser hoje debatido no seminário sobre migrações e preconceito, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Concluído em 2006, partiu de entrevistas a mais de mil pessoas naquela região: portugueses, ciganos e imigrantes dos PALOP. Coordenado por Manuel Carlos Silva, da Universidade do Minho, e José Manuel Sobral, da Universidade de Lisboa, o trabalho conclui que são os ciganos os mais discriminados. Foi identificado um claro grau de "hostilidade e discriminação" em relação a estes.

Manuel Carlos Silva explica que há poucos contactos entre as várias comunidades. "Os portugueses instalados não se dão com os negros nem com os ciganos, não frequentam os mesmos espaços, não vão a casa uns dos outros." E se, em relação aos imigrantes dos PALOP, "reconhecem vínculos identitários, no caso dos ciganos há uma enorme desconfiança". E refere que os números do inquérito ficam aquém da realidade, porque as pessoas não admitem que são racistas porque sabem que esse comportamento é condenável.

O investigador explica que estes estereótipos são muito difíceis de quebrar. "Um incidente isolado valida o estereótipo que 40 ou 50 casos contrários não conseguem reverter." E refere: "Numa sociedade que valoriza a escolaridade estes continuam a estar numa fronteira que é também económica."