23.2.08

Dois cursos de Coimbra no 'top 10' do desemprego

Pedro Sousa Tavares, in Diário de Notícias

O Governo pode intervir nas licenciaturas que contam com maior percentagem de diplomados inscritos nos centros de emprego. O anúncio foi feito ontem pelo ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, numa conferência de imprensa que serviu para divulgar um relatório onde, pela primeira vez, se identificam os nomes das instituições frequentadas pelos licenciados que se encontram em situação de desemprego.

Mariano Gago ressalvou que estes dados - que correspondem a uma "obrigação" e a uma promessa antiga da tutela - devem sobretudo servir para "informar os alunos" e para que as instituições façam "a sua própria reflexão". Nomeadamente através dos gabinetes de apoio aos licenciados, que "já existem num grande número de instituições", e que a tutela promete continuar a incentivar.

No entanto, acrescentou esperar que este trabalho produza resultados, ao nível da reformulação da oferta de alguns cursos "ainda este ano", avisando que o Ministério, que "já tem vindo a intervir" nos últimos anos, nomeadamente reduzindo licenciaturas com pouca procura, "estará atento e pronto a actuar se necessário".

Cursos de Coimbra em risco

Entre os vários quadros que integram o estudo divulgado ontem, o mais relevante é uma tabela onde se indica o número de licenciados de determinado curso de uma instituição, entre 2004 e 2006, e depois se verifica quantos estavam inscritos nos centros de emprego em Dezembro de 2007.

Neste indesejável top do desemprego, considerando apenas os cursos que diplomaram 60 ou mais alunos nesse período, o pri meiro (e pior) lugar é ocupado pelo curso de Enfermagem do Instituto Superior de Saúde do Alto Ave, com 74% de desempregados. Um valor desmentido categoricamente pela instituição privada em causa.

Mas o topo da lista abrange também as licenciaturas de Filosofia e Sociologia da Universidade de Coimbra e as Engenharias Química e Biotecnológica do Instituto Politécnico de Bragança, numa listagem que parece demonstrar que o bom nome público de algumas instituições não chega para assegurar emprego aos diplomados de algumas das suas licenciaturas. De uma lista de 43 cursos, uma dezena não conseguiu sequer colocar no mercado de trabalho metade dos seus diplomados.

Mariano Gago fez questão de sublinhar que o facto de estes dados serem recolhidos pela primeira vez não permite verificar se estes posicionamentos são indicadores de alguma tendência. "É preciso saber se estas situações são pontuais", frisou. "Um curso não é necessariamente melhor ou pior só porque em determinado momento tem mais dificuldade de integrar os licenciados no mercado de trabalho".

Ciências sociais em quebra

Em termos globais, o estudo, em que foi analisado um universo de 38 750 diplomados do ensino superior no desemprego (cerca de dois terços do total), demonstra que 66% dos casos dizem respeito ao ensino público e 34% ao privado. Um indicador que não se afasta muito do total de licenciados que cada sector produz anualmente. Mais relevante é o rácio de 58%/42% entre o sector universitário e politécnico, que parece comprovar a maior empregabilidade deste último subsistema.

Quanto às áreas, é nas ciências sociais e do Comportamento - que abrangem cursos como Economia, Psicologia, Sociologia e Relações Internacionais -, que se nota o maior peso no número de desempregados: 12%, apesar de só representar 8% dos diplomados. Seguem-se as Humanidades e os Serviços Sociais.

Um retrato global do Continente permite identificar um caso típico de diplomados sem trabalho: são mulheres, novas, do Norte.|