20.2.08

"Só queremos trabalho e uma vida melhor"

Manuel Vitorino, in Jornal de Notícias

"Não entramos em guerras", diz a ucranina Olga Bahostovych


Foi com aparente indiferença e surpresa que os cidadãos da Ucrânia a viver no Porto souberam da morte de um compatriota, anteontem, à noite, dentro de um apartamento do Porto. "Não soube de nada e também não é normal a existência de cenas de violência entre nós. Só queremos trabalho e uma vida melhor", adiantou ao JN Olga Bahostovych, da cadeia de lojas Troika, no Porto. "As pessoas são pacíficas e cada uma preocupa-se com a luta pela sobrevivência. Não entramos em guerras. O Porto é uma cidade maravilhosa e adoro cá estar. É a minha segunda pátria".

O mesmo sentimento foi transmitido pela ucraniana Natalya Vaskovska, presidente da Amizade-Associação de Imigrantes de Gondomar e "bastante conhecedora" dos problemas sociais dos cidadãos da Ucrânia. "Só soube da tragédia pelo JN. Fiquei triste. A comunidade espalhada em Portugal é muito ordeira e trabalhadora. De vez em quando, sucedem pequenas coisas, mas a esmagadora maioria está inserida e mantém laços de grande familiaridade com Portugal, sua pátria de acolhimento", disse.

Quanto a eventuais razões dos crimes, Natalya Vaskovska considera-as "estranhas", mas não associa a qualquer tipo de grupos mafiosos "Quando a família está junta, como é o caso, não existem cenas desse tipo. Só quando existem negócios de duvidosa legalidade, poderão acontecer cenas desagradáveis", disse.

O marido de Natalya, Vitaliy Vaskouskyy, também afirmou conhecer "muitos amigos" de Leste e ao longo da sua permanência no Porto só tem "boas recordações".

A morte do cidadão Hetsko OleK e a violação da sua mulher no interior de um apartamento na Rua de Pedro Hispano, também apanhou de surpresa Anna Zelenova, uma economista ucraniana que hoje trabalha na caixa do supermercado Mistmarket, no Porto. "Por vezes leio as notícias da nossa comunidade [no jornal Sloyo] e raramente tenho tempo para ver jornais portugueses. A minha vida é muito exigente e trabalhosa. As pessoas que vieram para cá apenas pensam numa coisa ganhar dinheiro, ter uma vida melhor e um trabalho decente. Mas, nem sempre as autoridades facilitam a nossa integração. O SEF é muito exigente e, por vezes, chega a demorar cinco meses para deferir um simples visto de residência".

No Porto existem cerca de cinco mil ucranianos. Na Região Norte 30 mil. Na sua maioria, eles trabalham na construção civil e elas nas limpezas.