11.3.08

Situações mais críticas são relacionadas com o desemprego”

Daniel Sousa e Silva, in Diário XXI

Centro de Estudos Sociais da Universidade da Beira Interior (CES_UBI) estuda exclusão social


Ao longo dos últimos dois anos, o CES_UBI estudou a exclusão social nos concelhos da Covilhã, Castelo Branco, Guarda e Seia. Os resultados estão disponíveis na Internet como forma de incentivar as boas práticas nas instituições que trabalham no terreno

Informação variada sobre a exclusão social na região e temas relacionados está agora ao alcance de todos através de um observatório online criado no âmbito de um projecto desenvolvido pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade da Beira Interior (CES_UBI). A plataforma está disponível em www.observatorio.insercoes.org e abrange os concelhos da Covilhã, Castelo Branco, Guarda e Seia e resulta de trabalhos coordenados por Amélia Augusto e Maria João Simões, que revelou ao Diário XXI o retrato obtido e os objectivos

- Em que consistem os trabalhos do CES_UBI?
- Visam aumentar o conhecimento sobre a exclusão social nos concelhos de Seia, Guarda, Covilhã e Castelo Branco, no sentido de dotar as entidades de um conhecimento mais aprofundado dos principais grupos-alvo. No caso do Inserções, temos a possibilidade de disponibilizar um observatório online com informação estatística e sobre exclusão social, nomeadamente políticas, programas, bibliografia, para além de um diagnóstico em versão de “esboço” sobre a exclusão social nestes quatro concelhos.
Quanto ao Aproximar, visou fundamentalmente sensibilizar as organizações para a sua capacitação organizacional e para a sua capacitação no sentido de uma intervenção mais qualificada no terreno.
- Qual a finalidade do Observatório digital?
- Está disponível para todas as entidades poderem dispor de uma base de informação significativa para a sua intervenção. Portanto, julgo que é um grande passo do ponto de vista da Beira Interior. Nós limitamo-nos a quatro concelhos, porque foram considerados aqueles que têm problemas mais complexos ao nível da exclusão social. Mas todas as entidades vão poder aceder a informação não só estatística, mas também qualitativa, que sirva estes grupos-alvo.
- Ou seja, o site pode funcionar como ponto de partida para as instituições aplicarem boas práticas?
- O Observatório online vai disponibilizar informação quantitativa e qualitativa que possam fundamentar mais a intervenção das instituições no terreno. Nós vamos continuar, no âmbito do UBI_CES, a canalizar os nossos esforços para a capacitação organizacional.
- E qual é o panorama geral que o Observatório apresenta sobre os quatro concelhos?
- O que nós tentámos fazer não foi tanto tirar conclusões sobre a exclusão social, mas sim identificar áreas de exclusão social que não estão a ser estudadas. Por exemplo, no que toca à vulnerabilidade à exclusão dos idosos, centramo-nos muito nas questões da privação (baixas reformas, se há ou não lares e centro de dia, entre outros). Tentámos que a análise atingisse outras dimensões da exclusão dos idosos, tais como a quebra dos laços sociais com a família ou vizinhança, para além da questão da desqualificação social (ou seja, o modo desvalorizado como olhamos os idosos).
A nossa ideia foi: face aos grupos-alvo de que já existem dados estatísticos que permitem tirar conclusões, identificar dimensões de análise que não têm sido até agora tratadas. Fundamentalmente foi isso. Mas é evidente que as situações mais críticas nestes concelhos são relacionadas com o desemprego. Contudo tentamos criar janelas de abertura em várias vertentes – idosos, crianças e jovens em risco, alcoólicos, toxicodependentes ou deficientes – para oferecer outros olhares que, de modo geral, não têm sido identificados nos diagnósticos.

Manter observatório actualizado
- Quanto tempo duraram estes projectos?
- Tiveram uma duração de dois anos e terminaram no fim de 2007. Agora, o nosso objectivo é criar condições para manter o Observatório online actualizado e continuar com as nossas acções de capacitação.
- A ideia é que os projectos não “morram” por completo?
- Exacto. Seria uma grande insatisfação para nós, depois do esforço diabólico de montar o Observatório online, que este dentro de uns meses fosse esquecido e não permanentemente actualizado. É claro que o grande esforço financeiro foi dado agora, em especial pelo POEFDS, para a montagem do Observatório, mas a sua actualização vai depender muito do trabalho em parceria e dos dados que as várias entidades nos queiram proporcionar.

www.observatorio.insercoes.org

Visita guiada à plataforma
O Observatório digital está dividido por diferentes campos de interesse. No separador “Diagnóstico” pode-se encontrar a investigação efectuada sobre os grupos-alvo do projecto, as teorias e as opções metodológicas que orientaram toda a investigação. Está também disponível uma base de dados estatística com informação disponível por cada um dos grupos-alvo e respectivos concelhos. “Para um conhecimento institucional das entidades que intervêm localmente na área da exclusão social”, é disponibilizada uma listagem e contactos de organizações que actuam nos quatro concelhos, para além de bibliografia recomendada, legislação, páginas na Internet “de referência a nível da exclusão social”.
A plataforma digital possui ainda um campo de “Destaques”, onde se mostra estudos relevantes na área e outras informações relacionadas com a temática do projecto. Por fim, o Observatório contém um “Fórum”, que pretende ser, explica o CES_UBI, “um espaço virtual de encontro, de debate, de conhecimento e de partilha de informação sobre a temática da exclusão social”.

O que é o UBI_CES?
O Centro de Estudos Sociais da Universidade da Beira Interior (UBI_CES) foi criado em 1994 como estrutura de investigação do então Departamento de Sociologia e Comunicação Social. Embora continue a manter uma ligação estreita ao Departamento de Sociologia, acolhe investigadores de outras áreas científicas, com e sem vínculo à UBI, e estimula uma investigação interdisciplinar.

As conclusões em cada grupo-alvo

O Diário XXI destaca algumas das ideias contidas no diagnóstico final disponível no site do Observatório. O diagnóstico está divido em diferentes grupos-alvo

Idosos
“Os tempos, as rotinas, as normas e as regras são ditadas por aqueles que trabalham nas instituições [lares, centros de dia e outros] e mediante as suas necessidades, e não em função de quem aí reside. Muitas são as entidades que se restringem a prestar cuidados básicos de saúde, higiene e alimentação, descurando a importância da existência de actividades de dinamização socio-cultural”.

Alcoólicos e Toxicodependentes
“Mais que simplesmente «curar» o doente, torna-se imprescindível avançar com mecanismos que incidam na qualificação em diversos eixos, nomeadamente no restabelecimento de laços sociais e na alteração de atitudes e comportamentos”.

Desempregados
“É necessário aprofundar a reflexão sobre as trajectórias dos desempregados e os recursos que estes mobilizam para se inserirem profissionalmente e, ainda, sobre os mecanismos do seu acompanhamento”.

Imigrantes
“Existe uma necessidade premente de estudar as implicações do fenómeno da imigração para estes territórios, identificando-se as suas potencialidades, de forma a integrar este grupo nos planos de desenvolvimento local/regionais”.

Deficientes
“Os Concelhos em estudo registam uma elevada representatividade de pessoas com deficiência física e uma expressão de pessoas com deficiência mental assinalável (...). Há uma percentagem muito reduzida de desempregados a beneficiarem das medidas de inserção profissional proporcionadas pelo IEFP”.

Crianças e jovens em risco
“A intervenção das entidades pauta-se por baixos níveis de reflexividade e a produção de conhecimentos relevantes sobre a realidade social em que incidem, e o seu impacto nela, não é ainda entendido com o carácter estratégico que lhe está subjacente”.