29.4.08

Como a crise atormenta África

in Jornal Público

Falta comida para 30 por cento da população


O Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU marcou 30 países que enfrentam este ano uma insegurança alimentar crescente: 22 estão em África. À medida que os preços aumentam, na Mauritânia, Burkina Faso, Camarões ou Senegal enfrentam tensões sociais. A fome está a provocar as mesmas consequências das últimas secas, inundações ou confrontos civis. Na Mauritânia, o número de pessoas sem comida suficiente aumentou 30 por cento nas zonas rurais, apesar de uma colheita razoável, diz o PAM. A emergência alimentar foi declarada em grande parte do país.

Os peritos da ONU, os responsáveis do Banco Mundial e as ONG temem que este seja o início da pior crise alimentar em décadas na região. E pedem aos países ricos 755 milhões de dólares extras. As agências já estão a deixar os mais desfavorecidos cada vez mais dependentes do mercado. "Este é o novo rosto da fome", diz Josette Sheeran, directora do PAM. A globalização deveria ter eliminado este tipo de desastres. Face à confiança dos economistas na nova eficácia do mercado, a necessidade de auto-suficiência alimentar parecia quase arcaica. Na nova realidade, os mercados globais forneceriam a abundância que a terra árida não dá, e a preços razoáveis. Mas, afinal, a globalização não funciona para os alimentos. Os países, em especial os ricos, continuaram a proteger os seus agricultores e stocks de alimentos internos, mesmo enquanto pressionavam para a liberalização comercial dos productos manufacturados.

A Mauritânia, sem antecipar este cenário, abandonou políticas de preços fixos nos anos 1990. E desistiu de aumentar a produção agrícola, desviando recursos para as minas e outras indústrias.