29.4.08

Crise dos alimentos: Portugal em risco?

in Portugal Diário

ONU criou missão para responder à escassez, mas no nosso país não existe grande preocupação. Ainda assim, os pobres estão sempre mais vulneráveis.

O preço dos alimentos sobe e os mercados vão tentando reagir. Para além da crise dos mercados de capitais, também a crise de alimentos atormenta a sociedade. A ONU já avançou com medidas de prevenção, mas será que Portugal está fora de risco?

O Ministro da Agricultura, Jaime Silva, considera que não. «Temos pão, cereais, arroz. Temos de estar tranquilos, porque estamos num mercado único muito grande, o maior do mundo. Este ano vamos ter outra vez mais produção do que procura. Não nos vão faltar condições, mas isso não significa que não estejamos atentos à evolução dos preços a nível mundial, que se reflectem na União Europeia», disse, em declarações à TSF, lembrando que muitas vezes o alarmismo não se confirma, como o que aconteceu recentemente com o preço do pão.

Na generalidade, os analistas estão descontentes com as políticas adoptadas. Para enfrentar a crise provocada pela subida crescente do preço dos alimentos, o secretário-geral das Nações Unidas diz serem necessários cerca de 1,6 mil milhões de euros. Isso levou Ban Ki-Moon a fazer um apelo urgente para que a comunidade internacional ajude a enfrentar a crise alimentar.

Para Mário Soares, vários erros levaram a esta situação. «Aqui há quatro anos ou menos ainda a agricultura era uma coisa que não era preciso fazer. Deixavam-se os campos ao abandono, porque havia produtos a mais e essa loucura que nos foi imposta pela União Europeia está a dar os seus resultados. Temos que regressar em força à agricultura», referiu à Rádio Renascença.

Pobres mais atingidos

O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal também aproveitou para apelar à intervenção do Governo para «pôr cobro» ao aumento dos preços dos bens alimentares que «atinge sobretudo os mais pobres».

«Tenho famílias no centro da cidade do Porto que dispõem apenas de 13 euros por dia. Famílias com filhos e netos», frisou o padre Jardim Moreira à Lusa. Estes «são dados concretos» que «obrigam o Governo a rever as suas actuais políticas».

Para o economista Pedro Lains, a crise não deverá afectar muito Portugal. «O país já está numa posição em que se devia preocupar em ajudar os outros, porque está no grupo dos países mais desenvolvidos. Estamos numa posição muito privilegiada a nível internacional, por isso já estamos do outro lado desta história. Estamos protegidos, porque o Euro, apesar de tudo, protege-nos destes impactos», referiu à Antena 1.

Biocombustíveis prejudicam

Na véspera de abandonar o cargo de relator da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler culpou o etanol pela crise de alimentos no mundo e pede uma moratória de cinco anos para o biocombustível. Na sua opinião, o mundo vive uma «verdadeira tragédia» e os biocombustiveis são «intoleráveis».

«São um crime contra grande parte da humanidade», já que provocam a subida nos preços dos alimentos. Esta tese, porém, é rebatida pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, que não concordar com a visão de Ziegler. «O massacre quotidiano da fome não é novo. Mas, agora, as novas classes sociais caíram no abismo da fome em poucos meses», referiu, lembrando que os mais atingidos foram os países em desenvolvimento.