12.4.08

Indicador avançado da OCDE antecipa quebra na economia portuguesa

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

O indicador mais usado para adivinhar o desempenho futuro da economia caiu em Fevereiro. Sócrates diz que não há motivos para mudar as previsões do Governo

-2,3%
Taxa de variação anualizada a seis meses do indicador avançado para Portugal registada em Fevereiro. É o valor mais baixo desde 2003 e revela uma tendência de abrandamento no país.

O indicador avançado da OCDE para Portugal acentuou, em Fevereiro passado, a sua tendência descendente, apontando de forma cada vez mais clara para um abrandamento da actividade económica e aumentando as probabilidades de concretização das projecções mais pessimistas para o ano de 2008.

Os dados ontem divulgados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) mostram que em Portugal se registou uma variação anualizada a seis meses negativa de 2,3 por cento do indicador avançado durante o mês de Fevereiro. Em Janeiro o valor atingido tinha sido de -0,9 por cento, o que significa que tendência negativa que se mantém desde Junho de 2007 se acentuou.

De acordo com a OCDE, a variação anualizada a seis meses do indicador avançado (que é calculado com base em dados referentes às exportações, consumo e investimento) é usado como "o sinal preferencial" para detectar uma eventual mudança de tendência na economia no futuro. Se começa a cair ou acentua uma quebra numa determinada altura, a economia pode registar, passados alguns meses, esses mesmos sintomas.

A confirmarem-se, neste caso, as capacidades de antecipação deste indicador, a economia portuguesa pode vir a revelar, a meio do presente ano, dificuldades ainda mais sérias em manter um ritmo que lhe permita um resultado superior ao de 2007, quando cresceu a uma taxa de 1,9 por cento. Parece, assim, mais difícil a concretização da previsão de crescimento do Governo para 2008 de 2,2 por cento e podem ficar em causa as projecções de dois por cento ainda em vigor por parte do Banco de Portugal e da própria OCDE. Esta semana, Vítor Constâncio disse que ia rever em baixa a previsão do banco para o crescimento da economia, embora assegurando que o resultado será melhor do que na zona euro. O FMI aponta para um cenário mais pessimista em que a variação do PIB fica em 1,3 por cento e abaixo da média europeia.

Ontem, o primeiro-ministro, reforçando o que tinha sido dito há dois dias pelo seu ministro das Finanças, defendeu que a previsão apresentada pelo FMI para Portugal é "excessivamente pessimista". José Sócrates acrescentou mesmo que "o Governo não tem nenhuma razão para alterar a sua previsão de crescimento económico para 2008".
A evolução negativa no indicador avançado da OCDE para Portugal acompanha o que se passa na generalidade dos países europeus, registando-se uma variação média negativa de 1,8 por cento nos 15 países da zona euro. É, no entanto, evidente que, nos últimos dois meses, a descida nacional foi das mais bruscas.

Confiança a pique nos EUA

Nos Estados Unidos, que assumem um papel central no desenrolar da actual crise internacional, os indicadores económicos continuam a confirmar, semana após semana, o cenário de entrada em recessão já durante o primeiro semestre do ano.

Ontem, foi divulgado o indicador de confiança dos consumidores Reuters-University of Michigan e os resultados conseguiram, mais uma vez, surpreender pela negativa. O índice passou de 69,5 pontos em Março para 63,2 em Abril, uma das quedas mais fortes dos últimos anos e que coloca o indicador ao nível mais baixo desde 1982.

A quebra é explicada pela combinação de fenómenos negativos a que se está a assistir nos EUA e que tornam os consumidores cada vez mais pessimistas. Por um lado, os preços das casas estão em queda, o que torna mais difícil a utilização da hipoteca para realizar outro tipo de compras, uma das práticas mais frequentes no passado nos EUA. Por outro lado, o desemprego está a subir a um ritmo alarmante, com a perda de 232 mil empregos no início deste ano a tornar os consumidores bastante mais prudentes. Por fim, a subida do preço dos combustíveis e de outras matérias-primas está a retirar espaço à gestão dos orçamentos familiares.