18.4.08

Maria Cavaco desvaloriza pobreza na Madeira

Lília Bernardes, Funchal, in Diário de Notícias

O quarto dia da agenda do Presidente da República foi dedicado a alguns concelhos fora do Funchal sob um "sol lindo", ou seja, mais um "dia perfeito e soberbo" para o Presidente da República. Mas quando questionado se o bom clima madeirense correspondia um bom clima político, Cavaco Silva deixou escapar que… "haveremos falar nisso". Uma declaração fugaz em Porto Moniz, pouco antes de partir para São Vicente.

Nos dois concelhos, a maioria PSD não convidou os vereadores da oposição. Por entre os banhos de multidão, as palmas, as flores, as cantorias, o folclore, talvez o Presidente da República não tenha dado por isso, mas João Carlos Gouveia, líder do PS/M, vereador em São Vicente, juntamente com a oposição municipal "proscrita pelo PSD", assistiu à passagem do Chefe de Estado concluindo ser esta "mais uma atitude do partido do poder que ofende o professor Cavaco Silva. No fim, "os assessores do senhor Presidente da República vieram cumprimentar-nos", disse ao DN.

Mas a manhã já tinha arrastado novidades. De outro ângulo. Enquanto Cavaco Silva ouvia explicações sobre a incineração da Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra, Maria Cavaco Silva cumpria uma agenda pessoal que incluía um encontro na Caritas Diocesa do Funchal. E o tema da pobreza regressou. Só que a primeira dama não acredita nos números do relatório do ISCTE.

Na véspera, Edgar Silva do PCP, na audiência com o Chefe de Estado, entregou cópia do estudo do ISCTE (2005) sobre a territorialização da pobreza em Portugal, cujos níveis na Madeira aparecem muito acima da média nacional, mais de 83 mil pobres e um grau de risco de pobreza monetária na ordem dos 34%. O relatório do ISCTE deu fundamento ao Plano Nacional para a Acção da Inclusão, documento entregue por Portugal junto das instituições comunitárias, o que não invalidou que os dados fossem negados pelo Governo Regional através de comunicado

Solicitada a comentar o cenário traduzido pelo relatório, Maria Cavaco Silva disse "não gostar de números". "Como não falei com o ISCTE não posso responder. Mas honestamente não acredito nisso. Não li o relatório, nem vou lê-lo! As pessoas da Segurança Social que falaram aqui comigo disseram-me que vão entrar em contacto directo com o ISCTE. Mas isso é com elas, não é comigo. Não é a mulher do Presidente que vai ter com o ISCTE pôr os seus números em causa", afirmou.

Pelas conversas de três dias, Maria Cavaco Silva concluiu que a probreza na Madeira "não tem significado. Há uma nova realidade muito semelhante ao que acontece no Con- tinente (…) Mas situações de miséria, miséria total… e eu tive a grande preocupação em perguntar isso, a Segurança Social tem a situação totalmente levantada, as pessoas trabalham em rede, estão muito bem articuladas", reiterou. A CDU deixou um apelo ao Presidente da República para que a Madeira integrasse um roteiro presidencial para a inclusão. "Foi a ele, não a mim. Se ele vier, eu venho logo", disse.

Aliás, Cavaco Silva, no final das audiências aos partidos políticos na quarta-feira, mostrou-se "sensibilizado" às opiniões diversas que lhe são transmitidas mas que "como compreenderão, em certas matérias, deve manter um direito de reserva, se quiser ser eficaz", reiterou.

Regressemos, então, a mais um "dia perfeito". Antes do almoço informal na cidade de Santana com os presidentes de Câmaras Municipais da Madeira, "um encontro com aqueles que estão mais próximos das populações", Cavaco fez questão de lembrar que "o País tem de reconhecer" que na Madeira, "há um património natural que tem uma valia para todos os portugueses" e que ele próprio desconhecia". O PR visita hoje a ilha de Porto Santo e inaugura uma unidade hoteleira do Grupo Pestana.