27.4.08

Os grandes vilões

in Jornal Público

Com o agudizar da crise dos preços dos alimentos, os culpados mais óbvios parecem ser os biocombustíveis, ou os agrocombustíveis. Mas estes são apenas uma peça do jogo e a polémica também não se reduz à competição com os alimentos.

Desde logo, tem de se ver do que se está a falar. De fora de todas as polémicas está o etanol brasileiro, feito a partir de cana-de-açúcar e de forma eficiente. O mesmo não acontece com a produção europeia e norte-americana. O último caso é especialmente importante, pois os EUA são o maior produtor de milho a nível mundial.
Com a escalada dos preços do petróleo e face às alterações climáticas, a aposta nos biocombustíveis tornou-se economicamente viável e politicamente desejável. Americanos e europeus começaram a apoiar as culturas energéticas, apesar dos avisos de que a solução não está bem estudada.

Nos EUA, onde o etanol é feito a partir do milho, viu-se um novo Eldorado. As refinarias surgiram como cogumelos, os agricultores abandonaram outros cereais e, no ano passado, 25 por cento da produção acabou nos tanques dos automóveis.

A Europa também não se fez rogada, embora numa escala inferior, até porque é o biodiesel, a partir de colza, que tem a maior quota dos biocombustíveis. Só que a beterraba e o milho começaram a ser cobiçados e os preços subiram, sobretudo pela euforia no mercado de futuros e por os investidores, após a crise do subprime, apostarem nas matérias-primas.

Surgiram entretanto alertas sobre se poder estar a apostar no cavalo errado. Organismos oficiais britânicos e canadianos e instituições como a União Europeia e as Nações Unidas emitiram estudos pedindo calma.

É que falta demonstrar que na UE e nos EUA esta alternativa seja energeticamente eficiente, tendo sido sugerido que a melhor forma de utilizar estes combustíveis seria em centrais energéticas, libertando-as dos combustíveis fósseis. Acrescem os problemas ambientais como a destruição de florestas tropicais para produzir óleo de palma para o biodiesel.

Por outro lado, só mantendo o interesse económico na primeira geração de biocombustíveis é que se torna viável a investigação na segunda geração, que passa pelo uso de biomassa, isto é, resíduos florestais e agrícolas, e que seriam a melhor alternativa, sobre todos os pontos de vista, ao petróleo. A.F.