23.5.08

Mais de metade das famílias na pobreza

in Portugal Diário

54,2 por cento dos agregados vulneráveis durante pelo menos um ano, entre 1995 e 2000


Mais de metade das famílias (54,2 por cento), em Portugal, viveram numa situação vulnerável à pobreza, pelo menos durante um ano, no período entre 1995 e 2000, revela o estudo «Um Olhar Sobre a Pobreza em Portugal», coordenado por Alfredo Bruto da Costa, no Centro de Estudos para a Intervenção Social (Cesis).

Segundo as conclusões do referido trabalho, citado pelo Público, 49,7 por cento da população que viveu em situação de pobreza durante, pelo menos um ano, trabalhava e o salário era a principal fonte de rendimento.

Portugal é o país de maiores desigualdades sociais

A «ineficácia» dos programas de combate à pobreza é um dado realçado pelo estudo. A prová-lo está o facto de, entre 1995 e 2000, mais de metade das famílias pobres (54 por cento) ter-se mantido nessa situação durante três ou mais anos.

O estudo definiu que um rendimento mensal de 388 euros, durante 12 meses, leva a que uma família seja considerada pobre.

12 por cento sem banheira ou chuveiro

Além do baixo rendimento, a linha de pobreza avalia-se também pelos níveis de privação: 61 por cento dos pobres não têm condições para manter a casa quente, 12 por cento não têm banheira ou chuveiro, e dez por cento não têm sequer uma retrete.

A ausência de telefone ou a localização da casa numa zona degradada, com lixo, leva os autores do estudo a concluírem que perto de 40 por cento da população portuguesa evidenciava, em 2004, alguma forma de privação.

Em matéria de privações, também os não pobres, são afectados, com 18,3 da população a confrontar-se com falta de dinheiro para chegar ao fim do mês.

População vê pobreza como uma «fatalidade»

Uma das conclusões mais gravosas para o país é a de que «a sociedade portuguesa não está preparada para apoiar as medidas necessárias para um verdadeiro combate à pobreza». Tudo porque a opinião pública acredita que a pobreza resulta do «enfraquecimento da responsabilidade individual», da preguiça dos pobres e crê ainda no fatalismo desta condição.

A vulnerabilidade à pobreza é «francamente maior» nas zonas rurais, muito embora também afecte cada vez mais as zonas urbanas.

Os baixos salários praticados em Portugal, são apontadas por Bruto da Costa como uma das causas da pobreza, a par das baixas qualificações de muitos empregados e empresários e que muito contribuem para uma baixa produtividade.

Escolas não pensam nas crianças pobres

Na entrevista ao Público, o autor do estudo refere ainda que as escolas devem dirigir-se às crianças pobres. «O sistema educativo tem que ter condições de acesso e sucesso das crianças provenientes dos meios pobres». Isto porque, conclui, «o sistema educativo está desenhado à imagem da família média e média alta: métodos pedagógicos, conteúdos, o apoio que a criança pode ter em casa . . .».