23.5.08

Outras conclusões do estudo

Andreia Sanches, in Jornal Público

Mais de metade das crianças e dos reformados são atingidos pela pobreza


Zonas rurais mais vulneráveis
Há muito que o fenómeno deixou de ser predominantemente rural, como acontecia durante a década de 80, "todavia, a vulnerabilidade à pobreza é francamente maior nas localidades de baixa densidade populacional", segundo o estudo Um Olhar sobre a Pobreza em Portugal.

Dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (Icor) de 2004, feito no âmbito da União Europeia, mostram que cada um dos diferentes tipos de localidades consideradas - densamente povoadas, intermédias e fracamente povoadas - concentra cerca de um terço dos pobres. Mas isto pouco diz do peso que eles têm nas populações. Alguns números: uma em cada três (31,5 por cento) famílias que em 2004 viviam em zonas escassamente povoadas eram pobres, contra 16,4 por cento das que viviam em zonas densamente povoadas.

Mais: se olharmos apenas para aqueles que entre 1995 e 2000 se mantiveram numa situação de pobreza ao longo dos seis anos consecutivos (e que correspondem a 6,5 por cento da população), verifica-se que 67 por cento dos "sempre-pobres" vivem em zonas rurais ou aldeias.

Baixa escolaridade marca
Nove em cada dez portugueses que, entre 1995 e 2000, caíram na pobreza pelo menos uma vez tinham no máximo o 3.º ciclo do ensino básico e apenas dois por cento o ensino superior. Em 2004, houve uma diminuição de um ponto percentual entre os indivíduos pobres que completaram o 9.º ano e um ligeiro aumento dos que tinham o ensino superior (2,7 por cento). "Este é, sem dúvida, um dos ciclos viciosos da pobreza: o pobre tem baixo nível de educação por ser pobre e é pobre por ter níveis baixos de escolaridade", concluem os autores.

Crianças preocupam
"Particularmente preocupante" - é assim que os autores do estudo classificam a incidência da pobreza nos grupos etários mais baixos. Entre 1995 e 2000 mais de metade (54 por cento) das crianças e jovens com menos de 17 anos "experimentaram a pobreza em pelo menos um dos seis anos em estudo". Ou seja, viviam integrados em famílias com rendimentos ou recursos abaixo do limiar de pobreza.
Dados mais recentes, do Icor, de 2004, mostram que 45,5 por cento dos agregados portugueses com dificuldades tinham crianças a cargo. E 23,8 por cento dos menores de 17 anos estavam em situação de pobreza.

Metade dos reformados pobres
É cedo para avaliar o impacto do Complemento Solidário para Idosos, diz a equipa coordenada por Bruto da Costa. Afinal, esta medida de combate à pobreza entre os mais velhos só foi generalizada este ano. Certo é que quase dois terços (64 por cento) da população com 75 ou mais anos viveu ao longo de seis anos uma situação de pobreza, pontual ou persistente. E o grupo imediatamente anterior (65-74 anos) revela também uma "elevada vulnerabilidade" - "54 por cento dos indivíduos passou pela pobreza durante o período em análise". Os autores consideram que "mais de metade dos reformados no país são pobres".