10.6.08

Cavaco quer Portugal a atrair emigrantes

Paulo Julião, Viana do Castelo, in Diário de Notícias

10 de Junho. Viana do Castelo é a sede oficial das comemorações do Dia de Portugal. As festas começaram ontem e o Presidente, já na cidade, cometeu a gaffe de chamar ao feriado "dia da raça" o nome que se usava no antigo regime


Só Bloco deu ênfase à gaffe do Presidente

A "diáspora portuguesa" esteve ontem no centro do primeiro dia das comemorações do 10 de Junho, com o Presidente da República a enaltecer o "imenso capital social e humano", do País, com "uma história feita de determinação e engenho". Cavaco Silva exortou o País a atrair e acarinhar os portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro e que pretendam regressar, como factor de desenvolvimento para Portugal.

Mas foi em declarações aos jornalistas, que Cavaco protagonizou uma gaffe. O Presidente da República usou a expressão "dia da raça", - que era o nome oficial do 10 de Junho até ao 25 de Abril de 1974 - para se escusar a comentar a paralisação dos camionistas, garantindo, ainda assim, que está a acompanhar a situação. "Hoje eu tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas", afirmou o chefe do Estado, perante a insistência dos jornalistas.

"A acompanhar sim, mas não a fazer comentários no dia de hoje", referiu. Declarações que mereceram entretanto fortes críticas do Bloco de Esquerda. Numa nota enviada à comunicação social, o BE manifestou "perplexidade" com a expressão usada por Cavaco - uma " terminologia racista e segregadora do Estado Novo". Para os bloquistas, perante "estas polémicas declarações", o Presidente da República tem agora o "dever, perante todos os portugueses, de esclarecer o que entende ser o espírito do 10 de Junho".

Banhos de multidão

O Presidente da República foi ontem brindado com vários banhos de multidão no primeiro de dois dias de estadia em Viana do Castelo por ocasião do 10 de Junho. Num dia dedicado às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, defendeu que "Portugal deve saber atrair e acarinhar os portugueses que, estando no exterior, pretendem regressar e, desta forma, contribuir com investimentos, formação e experiência para o desenvolvimento económico e social do País". Numa mensagem dirigida a partir da Praça da Liberdade, o Presidente defendeu que este regresso poderá ser feito "com o empenhamento da sociedade civil, devendo ser complementada e consolidada através do desenvolvimento de mecanismos formais, como, por exemplo, as câmaras de comércio, as novas redes comerciais, sem esquecer as instituições tradicionais de origem portuguesa".

Por outro lado, o Presidente da República apelou igualmente à mobilização dos cinco milhões de portugueses e de lusodescendentes que vivem e trabalham no estrangeiro para a "afirmação" de Portugal no plano internacional. " Mas, sendo este um desígnio nacional, caberá ainda ao Estado português fomentar as relações entre Portugal e as suas comunidades", afirmou, sustentando: "Os recursos e os conhecimentos dos portugueses no exterior podem contribuir para uma maior afirmação de Portugal no plano internacional, apoiando, por exemplo, a entrada de produtos e de empresas nacionais em novos mercados".

Autarca do PS critica Governo

O presidente da Câmara de Viana do Castelo aproveitou a presença do chefe de Estado na cidade para avançar um pedido a Cavaco: combater "o crescente centralismo do aparelho do Estado" fazendo uso da sua "ampla legitimidade democrática de que está investido". Discursando na recepção ao Presidente, Defensor Moura criticou o "crescente centralismo do aparelho do Estado" que mesmo nos sectores onde ainda mantêm serviços, "vai minimizando progressivamente as atribuições e a autonomia de muitos profissionais, até ao total desaparecimento dos serviços".

Numa cerimónia que decorreu nos antigos Paços do Concelho, o autarca socialista foi mais longe nas críticas ao sistema político, afirmando não estar preocupado com um dos maiores motivos de preocupação de Cavaco: a participação dos jovens. Defensor Moura criticou as "profissionalizadas juventudes dos partidos", assim como "o clientelismo e o carreirismo com a ascensão sem mérito" que reflecte um "decadente sistema partidário".

O primeiro dos dois dias que Cavaco Silva dedica a Viana foi passado com várias incursões pelas ruas da cidade, sempre debaixo de flashes de cidadãos anónimos.