21.6.08

Economia está a arrefecer há sete meses consecutivos

Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias

Conjuntura. Banco de Portugal e INE traçam cenários pessimistas

Actividade económica ao nível mais baixo desde Novembro de 2003


A economia portuguesa voltou a desacelerar em Maio, pelo sétimo mês consecutivo, com os gastos das famílias e das empresas em consumo de bens a abrandarem. O que já sucede há oito meses, de acordo com indicadores avançados, ontem divulgados pelo Banco de Portugal.

Os dados do banco central - que agregam o andamento do PIB, vendas do comércio a retalho, cimentos, veículos pesados e produção da indústria transformadora - revelam que a actividade económica terá crescido apenas 0,4% em Maio deste ano, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Trata-se do valor homólogo mais baixo desde Novembro de 2003.

O consumo das famílias terá aumentado 0,5% em Maio, face ao mesmo mês do ano passado, mas está a decrescer ao longo dos últimos meses, atingindo o valor mais baixo desde Setembro de 2003, o que está em linha com a quebra da confiança das famílias e dos industriais nos últimos três meses terminados em Maio.

Já em Abril, o consumo das famílias portuguesas, a braços com taxas de juro mais elevadas e aumentos dos preços dos bens, terá estado em desaceleração, a avaliar pelos dados também ontem divulgados pelo INE, na síntese mensal de conjuntura. Os lojistas confirmam uma quebra nas vendas, com os consumidores a cortarem na factura com o consumo alimentar e não alimentar. Em Maio, o "clima económico agravou-se ligeiramente", com a confiança dos industriais e comerciantes a registarem quedas.

Investimento

O investimento aumentou em Abril, interrompendo "a forte diminuição observada nos três meses anteriores". Mas este ressurgimento deveu-se, segundo o INE, sobretudo à construção - que representa cerca de 50% do total -, com os construtores a relatarem um aumento significativo de encomendas de obras em carteira . De tal modo que atingiu em Maio o máximo desde final de 2002.

"As vendas de cimento voltaram a diminuir mais intensamente", embora "as vendas de varão para betão continuem a recuperar", ressalva o relatório do INE. O que deixa em aberto se a recuperação do investimento em construção é sustentável, já que, ainda por cima, "o indicador de máquinas e equipamentos, disponível até Maio, abrandou ligeiramente nos dois últimos meses".

No comércio externo, os indicadores são, para já, contraditórios. Para Maio, os industriais referem uma deterioração das encomendas com origem externa. Mas, em Abril, as exportações, nominais, cresceram 6,5% face ao mesmo mês do ano passado, enquanto as importações aumentaram 14,2%, de acordo com as primeiras estimativas para o comércio externo.