25.6.08

Seis dias de viagem em comboio multicultural

Gina Pereira, in Jornal de Notícias

Conhecer locais onde nunca estiveram e fazer novos amigos são as principais motivações dos 120 jovens , de 17 nacionalidades, que ontem embarcaram numa viagem pelo país que pretende celebrar o Ano Europeu do Diálogo Intercultural.

Eram 11.18 horas quando o "Expresso das Nações" partiu da Estação do Oriente, em Lisboa, em direcção às Caldas da Rainha, a primeira paragem deste comboio que, nos próximos seis dias, vai levar jovens filhos de imigrantes e estrangeiros a residir em Portugal numa viagem que pretende ser uma experiência de partilha e troca de culturas. O regresso só irá acontecer no domingo, num veleiro que irá partir da Figueira da Foz.

Anastasya Pankushyna, 14 anos e a viver há dois anos e meio em Portimão, foi uma das escolhidas para embarcar nesta aventura, promovida pelo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), em colaboração com três associações juvenis. Inscreveu-se através do Centro de Apoio à População Emigrante do Leste e Amigos (CAPELA), onde foram seleccionados outros três jovens, todos de Leste.

"Queria conhecer Portugal. Nunca saí de Portimão, nem conheço muitos sítios", dizia, ao JN, a ucraniana, entusiasmada com esta oportunidade. Ontem, o dia foi passado em Óbidos, segue-se hoje Leiria, depois Aveiro, Porto, Matosinhos e Figueira da Foz, onde embarcam num veleiro de regresso a casa.

Para Cleiton Castro, 16 anos, chegado do Brasil há apenas cinco semanas para se juntar à família no Montijo, esta viagem chegou no momento certo para o ajudar na integração. "Estou achando fixe", dizia, ainda antes da partida, quando os jovens já começavam a trocar números de telemóvel. O seu desejo é regressar a casa com uma mão-cheia de novos amigos.

Roberto Cabral, 15 anos, marcou logo o seu lugar junto à janela mal entrou no comboio. A viver no Feijó, em Almada, praticamente nunca andou de comboio e também será a primeira vez que anda de barco, pelo que se apetrechou com comprimidos para o enjoo. O que mais o atrai é a possibilidade de "dar a volta a Portugal e conhecer novas culturas".

Os participantes acreditam que não vão ter tempos mortos e, a avaliar pelo entusiasmo com que se divertiam, a viagem promete ser inesquecível. Na maior parte dos dias, vão dormir no comboio, o que os irá obrigar a partilhar e a gerir um espaço que não é abundante e a treinar a tolerância.

Segundo Miguel Silva, da Juvemedia, uma das associações que organizam a viagem, durante o trajecto haverá actividades que pretendem "provocar o diálogo intercultural" e dinamizar o "espírito do grupo", bem como conhecer os locais por onde vão passando e que irão assinalando num diário de bordo. Embora a maioria dos participantes sejam portugueses, há cerca de 50 jovens filhos de imigrantes ou estrangeiros a residir em Portugal e o objectivo é fazê-los partilhar experiências.

Rosário Farmhouse, alta-comissária para a emigração, explicou que esta viagem pretende fazer com que os jovens "aprendam a conviver e a descobrir a riqueza que cada um tem dentro de si". A adesão excedeu as expectativas - tiveram de fechar as inscrições porque a lotação esgotou - e só no final da viagem se irá decidir se é para repetir. A CP, que disponibilizou o comboio, já garantiu o apoio ao projecto.